quinta-feira, 2 de abril de 2009

Catarina


Catarina tem olhos pequenos como as sementinhas de uma romã. É sardenta e fala coisas especialmente engraçadas quando ditas por uma garota de 8 anos. Gosta do seu mundo todo em preto e branco, embora se sinta feliz quando desenha castelos gigantes e coloridos com sua caixa de giz de cera. A pontinha de seu nariz é levemente avermelhada, dando a impressão de que a menina está sempre gripada. Talvez esse seja o seu charme, um tanto torto, mas um lindo charme.

Seu doce favorito é um doce no plural. São as famosas bolinhas feitas à base de leite condensado e chocolate, cobertas com granulado. Quase todas as tardes, ao final da aula de natação, a mocinha come alguns exemplares da sobremesa. E isso, nos vestiários, não passou sem ganhar gracejos vindos de seus colegas das piscinas, que apelidaram-na de Maria Brigadeiro. Ela não apreciou muito a alcunha, no entanto, também não reclamou.

Fica encantada quando senta na janela do ônibus e consegue avistar tudo o que se passa pelas ruas: pernas apressadas, pessoas sentadas na varanda, conversas entrecortadas, vitrines que atravessam rapidamente seu olhar, crianças brincando. Aliás, ela também é uma criança que costuma passar horas na rua se divertindo com os vizinhos. É esconde-esconde, pega-pega, barra-bandeira e mais um monte de passatempos com hífens.

Apesar da pouca idade, Catarina adora repetir a frase que mais sai da boca de sua mãe: "viver é muito perigoso." Mas talvez ela ainda não saiba o que um tal de Guimarães Rosa quis dizer com isso. Na verdade, nem Catarina nem eu.