sexta-feira, 17 de agosto de 2012

de sonhadora para sonhadora


Em homenagem a uma florzinha chamada Rêveur, que hoje nos lembrou quem fomos e quem somos.

Começamos a escrever aqui em 2007.
A Rêveur tem razão, foi há tanto tempo. Quando se tem 20 anos, você mastiga os anos inteirinhos e ainda aproveita o suco e as cascas.
Eu tinha 21 anos e tinha acabado de assinar um contrato que eu mesma redigira e mudou drasticamente a minha vida.
Eu escrevi o contrato com a certeza de que o rasgaria futuramente, mas depois que ele entrou em vigor estava claro que não haveria reverso.
Mudei a rota. Soltei os cachos do cabelo, tirei o vestido longo florido amassado do armário e as alpargatas, comecei a tomar cerveja no Terceira Aula e a frequentar bares pés-sujo, fui fazer terapia alternativa e participar de temascais em Pedra Bela.
Botei a vida na rota certa, como você faz quando pega o bebê que engatinhava rumo ao degrau e coloca-o de novo no lugarzinho seguro.
Eu achava que o seguro era o seguro, e o inseguro é que era.

Tem certas coisas que a gente aprende e fixa, mas a verdade é que a maioria delas a gente tem de reaprender todos os dias. Tenha 21 anos, 26 ou (imagino) 35. É um exercício diário conseguir prestar atenção no que você sente e não no que você pensa, pois a mente é traiçoeira e o que você sente é sempre o melhor termômetro; livrar-se de antigos padrões que já não prestam mais, mas de alguma forma estarão sempre ali, na gaveta do passado que nem sequer existe; viver o amor sem perder-se nele (a numeróloga disse que seria a maior lição da minha vida até os 35 anos); não se comparar com o outro, porque você pode realizar seus maiores sonhos, mas se se comparar com os outros tudo vai sempre parecer pequeno ou insuficiente.

Certo, hoje dou risada de pessoas e coisas que eu admirava aos 21, já não sonho os mesmos sonhos, mas os respeito, e converso muito com as amigas sobre coisas que não eram pauta, como a dificuldade da nossa geração de se encaixar em trabalhos com modelagens antigas que simplesmente não servem na gente.

De 2007 pra cá, aconteceram coisas maravilhosas como ter conhecido o homem que eu amo e com quem me casei sem ritos e cerimônias, apenas porque era natural fazê-lo; descobri que adoro ser dona de casa, cuidar de flores e cozinhar; virei madrasta de duas pessoas doces e generosas e com elas aprendi uma nova forma de respeito e amor, e um pouco como é ser mãe; viajei sozinha de carro a trabalho pelo Brasil e descobri ao mesmo tempo minha vocação e minha praia preferida no Nordeste; fui pro Caribe e pra Jerusalém; criei meu próprio blog, o Calunga cor-de-rosa; trabalhei em redação e cheguei à conclusão de que gosto mesmo é de ser frila, poder fatiar meu próprio tempo, não passar horas seguidas em frente ao computador e ter tempo para pensar em meus projetos e para passar uma quinta à tarde jogada no sofá da casa da vovó ouvindo as tias, as primas e os choros dos bebês.

Mas no fundo é isso, Rêveur, somos as mesmas meninas. Quer uma prova? Conversa agora no Gtalk com uma Menina de Lá:

Ela: Tava pensando em largar o jornalismo
Eu: Naquela época do blog?
Ela: Não, agora. hahahaha

E, Rêveur, aprendemos o tempo todo com meninas ainda mais meninas, como aprendi essa semana com minha prima Fabiana e com você, que além de tudo me ensinou uma palavra nova em francês: sonhadora.








quinta-feira, 17 de junho de 2010

A novidade

Era um encontro casual, para que elas anunciassem as boas-novas. Mesmo assim, menina-virginiana era só ansiedade. Sim, quer me matar um dia? É só me prometer contar uma novidade em breve, ou mais tarde ou em outro dia...é muita maldade me fazer esperar por essas coisas.

Voltando às boas novas, o destino era a casa nova dela, recém-mobiliada, linda, mas sem talheres. A expectativa era grande: vou ser madrinha? dama de honra? vou ser tia? o que será, meu deus...

Estávamos ali, as 3. "Você, menina-loira dos olhos azuis, será madrinha...e você virginiana-poesia, gostaria de fazer o discurso do casamento? Sabe, não haverá padres nem rabinos. As bençãos serão dadas por um casal de amigos: Ele e você, se topar, é claro".

Os olhos, como normalmente acontece, se encheram de lágrimas. O coração, como nem sempre acontece, acelerou de nervoso. Era a hora...justo eu, que nem sei o que é o amor? Justo eu, fui escolhida para discursar no casamento dela...

Aceitei, claro. E, depois desse dia, nunca mais dormi direito. Sonho, escrevo em guardanapos, em e-mails que mando pra mim mesma e salvo na pasta: "casamento dela". Tudo isso, tanto papel rasgado e frases deletadas para, no final, dizer a única coisa que realmente importa e, que todas as noites, peço aos céus em segredo, com as mãos unidas e os olhinhos apertados: "Amo vocês e que sejam felizes para sempre, amém!"

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

renascendo


Acho tão delicado esse texto da Cris Guerra que acabo de encontrar por acaso na bagunça do meu gmail. E como ele me lembra os primeiros passinhos das Meninas, quando a gente descobriu o Para Francisco e se encantou pelo blog, achei que 'Sobre o amor' tinha tudo a ver com esse novo começo.

"Quando nasce um amor novo, é difícil resistir à tentação de alimentá-lo só com a presença. Mas é preciso deixar o amor respirar. Se você colocar uma flor bem bonita dentro de uma redoma, com medo que o vento e o tempo levem sua beleza, manterá por muito pouco tempo o que dela é bonito.

O que eu aprendi sobre o amor, filho, é que ele é feito de faltas e presenças. E que nenhuma das duas pode faltar.

Aprendi que o amor é feito de liberdade. É como ter, todos os dias, muitas outras opções. E ainda assim fazer a mesma livre escolha.

Dessas pequenas vitórias se faz a alegria de amar e ser amado. Descobrir no olhar do outro que você foi escolhido de novo. E de novo, mais uma vez.

Também aprendi que o amor interrompido em seu auge permanece bonito para sempre. O que pode ser muito doído ou pode ser um presente. Depende de como a gente quer guardar. Depende de como a gente quer seguir.

O amor é feito de falta, filho. Mas aí mora um perigo: adorar mais a falta que o próprio amor. Posso cometer esse erro diante de quem amo ou diante da própria falta. E aí quem passa a faltar sou eu mesma.

O amor é feito de falta, mas não sobrevive sem a presença. O amor é feito de hoje.

Por isso, ao ver a ida do seu pai, meu coração deu um nó. Como continuar minha caminhada, como não olhar para trás, se vinha de lá a nova presença, o novo amor?

Você é feito do amor de ontem, cresce amor de hoje e vai ser amor de amanhã. Você me trouxe a alegria de continuar amando o seu pai. Aquele que conheci, com quem vivi cada hoje com intensidade e delicadeza. Aquele por quem lutei, com quem briguei. Aquele que me transformou e que se deixou transformar por meu amor.

Você e ele, juntos, me trouxeram o milagre de continuar amando a mim mesma.

A falta do seu pai doeu ontem e dói ainda hoje. Mas não é a mesma dor. Com esse amor, tento transformar a dor de hoje em uma dor diferente amanhã.

O que aprendi sobre o amor é que ele deve estar sempre distraído. Mas quando falta o objeto do amor é o contrário: melhor não se distrair nunca.

O que aprendi sobre o amor - e isso aprendi sobre o amor a mim mesma - é que ele exige de mim, todos os dias, um esforço. Um exercício diário do qual não posso abrir mão.

É como estar num mar profundo, sem barco ou bóia. Não posso simplesmente boiar. Posso relaxar um pouco, mas logo retomo o nado. Não posso boiar, não posso, não posso. A onda pode me levar".

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

A causa

Não acreditava nela. nunca acreditei. sempre achei que era desculpa para reclamar, para comer, para chorar. Mas de um tempo pra cá, descobri que ela existe e, pra mim, tem hora marcada para começar. Quando o choro chega sem razão, quando o grito explode injusto contra ele, quando o coração aperta e se fecha como concha que esconde pérola, quando o armário fica pequeno diante do meu desespero, quando as sobremesas se tornam parte obrigatória dos meus dias, é batata, na cartela de pílulas restam apenas 4.

Tem Poesia de Menos nesses dias.

sábado, 17 de outubro de 2009

Cumpleaños feliz às meninas de lá

Foi no dia 12, mas a vida atribulada nos fez passar a data em branco.

2 anos.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

sirva num prato vermelho


Hoje comecei a dançar flamenco. Foi minha quarta ou quinta aula, mas só comecei hoje, quando depois de um sonho engraçado acordei com desejo de espantar os cacos, varrer a sala, vestir saia rodada cor-de-rosa e sorrir, mesmo sabendo que a vida tem seu ritmo e nem sempre conseguimos acompanhar os passos. Afinal de contas, mesmo com toda vontade de acertar, uma hora o sapato não saiu dos pés e tropecei? E não consegui acertar o passo para trás, então improvisei as mesmas batidas de um jeito diferente. A professora nem reparou, a colega ao lado viu e comentou: "Você não tá conseguindo fazer, né?". E eu respondi, sem vergonha: "Não tô". Não me levei a sério, nem se me pedissem levava, nem se brigassem comigo levava. Foi a mesma mulher que correu atrás de mim quando deixava a sala, sugerindo afetuosamente como quem gostaria muito daquilo: "Venha também às quintas, a gente arrumou um horário". Hoje eu dancei divertida, insolente, metidazinha entendendo o movimento dos braços, a posição dos ombros. Conversei com o espelho. Oi, garota, sim esta é você, é você quem está aqui e se não acertar o passo, mesmo que seja errando, não vai ter dança, ninguém vai fazer por você. Ei, garota, é com você, com essas pernocas e esse cabelo cacheado de dormir molhado, se está calor liga o ventilador e passa pano no espelho embaçado, se não entende português, desliga o rádio e escuta as palmas, bota flor no cabelo, que se for pra morrer seja de morte gostosa, é com você, garota.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Caramelo

O cheirinho de açúcar queimado tornava quente a sala escura. O fervilhar da panela foi a trilha sonora da segunda-feira fria. E o caramelo derreteu as cordas que apertavam o coração. Digo, uma parte delas...Caramelo foi, sem dúvida, a surpresa mais doce em uma semana de inspiração vermelha, em que bexigas em formato de coração decoravam as vitrines cafonas da capital gelada.

No líbano, os desejos e ansiedades delas são iguais aos nossos e, em cada cena, eu me lembrava da gente. Das vezes que nos encontramos para chorar, mas tudo sempre acabava em risada. Da amizade que começou com corações partidos, das noites dançantes cuja lembrança mais forte é uma delas sentada no lixo. Lembrei das viagens, que íam de café da manhã em frente ao mar e cinco sobremesas a banho gelado e miojo pré-samba na areia. Lembrei dos sonhos e dos planos frustrados, das risadas intermináveis e dos segredos bem-guardados.

Enfim, Caramelo é um delicioso filme sobre mulheres, suas belezas, suas dores, inseguraças e amores....histórias verdadeiras e comuns nos quatro cantos do mundo. E como não se apaixonar? Se apaixonar por elas, mulheres, por nós mesmas, por aquela que atravessa rua com saia rodada ou por aquela que chora escondida, trancada no banheiro do escritório. Como não se apaixonar até por aquela que, com o coração encolhido, finge discar errado como se fosse possível esconder de mim que o olhar pernambucano anda carregado de tristeza.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Ponto


"O mundo é feito de pontos. São muitos se forem pontos de vista. Poucos se forem pontos estratégicos. Muito úmidos se forem pontos de chuva. O mais gostoso é ponto de encontro, mas às vezes desencontra. Ou pontos de luz, um homem e uma mulher nus. Todos são pontos. O caminho entre dois uma reta. Uma linha. Um caminho que caminha sozinho. Fim da linha. Ou do fio. Fio da meada é na conversa. Conversas são feitas de pontos de enfoque. O palco também. Amores são pontos em comum. Os pontos são um."

Estrela Ruiz Leminski