segunda-feira, 5 de outubro de 2009

sirva num prato vermelho


Hoje comecei a dançar flamenco. Foi minha quarta ou quinta aula, mas só comecei hoje, quando depois de um sonho engraçado acordei com desejo de espantar os cacos, varrer a sala, vestir saia rodada cor-de-rosa e sorrir, mesmo sabendo que a vida tem seu ritmo e nem sempre conseguimos acompanhar os passos. Afinal de contas, mesmo com toda vontade de acertar, uma hora o sapato não saiu dos pés e tropecei? E não consegui acertar o passo para trás, então improvisei as mesmas batidas de um jeito diferente. A professora nem reparou, a colega ao lado viu e comentou: "Você não tá conseguindo fazer, né?". E eu respondi, sem vergonha: "Não tô". Não me levei a sério, nem se me pedissem levava, nem se brigassem comigo levava. Foi a mesma mulher que correu atrás de mim quando deixava a sala, sugerindo afetuosamente como quem gostaria muito daquilo: "Venha também às quintas, a gente arrumou um horário". Hoje eu dancei divertida, insolente, metidazinha entendendo o movimento dos braços, a posição dos ombros. Conversei com o espelho. Oi, garota, sim esta é você, é você quem está aqui e se não acertar o passo, mesmo que seja errando, não vai ter dança, ninguém vai fazer por você. Ei, garota, é com você, com essas pernocas e esse cabelo cacheado de dormir molhado, se está calor liga o ventilador e passa pano no espelho embaçado, se não entende português, desliga o rádio e escuta as palmas, bota flor no cabelo, que se for pra morrer seja de morte gostosa, é com você, garota.

Um comentário:

Liliane disse...

E nana... um dia o espelho te olhará com o maior orgulho do mundo dizendo a si mesmo: Ajudei a criar essa bailarina. Vez por outra nos confundimos, não sabíamos quando era ela e quando era eu. Porém, na dança da vida, ela soube seguir e eu ainda sigo aqui. A espera.

Somos filhas do espelho e de nós mesmas. Não desista. Nunca.


Beijos de uma bailarina também