segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

O meu Ano Novo


Este ano, admito: não pensei em lista de resoluções, não enlouqueci atrás de uma roupa branca e nem me senti injustiçada com a possibilidade de passar o revéillon em São Paulo. No dia 31 de dezembro, quando pular as ondinhas e molhar a ponta do meu vestido florido sem nem um tantinho de frescura, não é o Ano Novo que vou comemorar. O Ano Novo já acordou dentro de mim e, tomando novamente emprestadas as palavras de Drummond, não se fez apenas pintado de novo, remendado às carreiras. Fez-se novo, poeta, nas sementinhas do vir-a-ser, novo até no coração das coisas menos percebidas. O Ano Novo talvez tenha começado, com muito amor, num quartinho próximo às rosas que ilustram este blog. Ou então antes, um pouco antes disso, quando entendi pela primeira vez, de um jeito meio torto, que ausência é um estar em mim. A virada veio em forma de barquinho de Yemanjá colorido, mas foi que o danado do barquinho acabou indo parar em um rio, longe, não se sabe se Danúbio ou São Francisco. Nunca, Ano Novo nenhum me trouxe tanta dor e, ao mesmo tempo, tanta paz. De repente, como aquela chuva que caía atrás das montanhas e que observamos, serelepes, chegar até nós, de repente, em meu fusca cor-de-rosa, percebi que seria a hora de cruzar o país sozinha, de levar a mochila pesada na trilha. Aí, Adélia, o mundo, por um espaço de tempo, ficou cheio de departamentos, deixou de ser a bola bonita caminhando solta no espaço...mas a chuva passou, passou para outra fazenda e fez sorrisos em outros rostos. Eu ganhei o melhor presente que já recebi até hoje. E vi: há tantas pessoas bonitas, esperando alguém enxergar a poesia que existe nelas. O que acontece é que, às vezes, a gente deixa de olhar a beleza de tudo porque não sabe direito cadê a nossa poesia. Tudo o que precisava era ficar um bocadinho quieta, toda minha - ele, grande demais, viu. Entrei na tenda e deixei a menina que queria deixar e desde então aprendi tantas coisas que, se tentar expressá-las, talvez percam sua força. Prefiro o símbolo do infinito. O futuro, ah, o Ano Novo de verdade-mentira, este que vem com gosto de areia doce e cirandas-de-roda, ele chega para mim deliciosamente sem receitas.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Tudo novo de novo


Nos pulinhos à meia-noite quero desejar mais do que sete coisas. Vou pular quantas ondas eu quiser e, se der vontade, mergulhar no mar de roupa e tudo. No novo ano quero tudo novo de novo.
Quero tudo colorido como um quadro de Miró. Quero não sentir medo. Quero me entregar mais, me jogar mais, amar mais.
Viajar até cansar. Quero sair pelo mundo. Quero fins de semana de praia. Aproveitar os amigos e abraçá-los mais. Quero ver mais filmes e comer mais pipoca, ler mais. Sair mais. Quero um trabalho novo. Quero não me atrasar tanto, nem me preocupar tanto. Quero morar sozinha, quero ter momentos de paz. Quero dançar mais. Comer mais brigadeiro de panela, acordar mais cedo e economizar mais. Sorrir mais, chorar menos e ajudar mais. Pensar mais e pensar menos. Andar mais de bicicleta. Ir mais vezes ao parque. Quero ser feliz, quero sossego, quero outra tatuagem. Quero me olhar mais. Cortar mais os cabelos. Tomar mais sol e mais banho de chuva. Preciso me concentrar mais, delirar mais.
Não quero esperar mais, quero fazer mais, suar mais, cantar mais e mais. Quero conhecer mais pessoas. Quero olhar para frente e só o necessário para trás. Quero olhar nos olhos do que fez sofrer e sorrir e abraçar, sem mágoa. Quero pedir menos desculpas, sentir menos culpa. Quero mais chão, pouco vão e mais bolinhas de sabão. Quero aceitar menos, indagar mais, ousar mais. Experimentar mais. Quero menos “mas”. Quero não sentir tanta saudade. Quero mais e tudo o mais.
“E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha”. Fernando Pessoa que, aliás, tem me inspirado mais.

Promessas de Ano Novo

E é assim que é, decidi. Mesmo que ninguém concorde comigo vou cortar os cabelos e pinta-los de cor-de-rosa. Vou comprar calcinhas brancas e fitinhas vermelhas. Vou comprar passagens de avião para passar o fim-de-semana na Bahia. Vou parcelar no cartão de crédito roupas novas para os dias de férias. Vou emendar a música eletrônica das madrugadas de sexta-feira com a ioga das manhãs de sábado. Vou aprender a gostar de música eletrônica e vou me matricular na ioga. Também vou fazer suco de tangerina no liquidificador para acompanhar as batatinhas com casca e alecrim. Vou esticar a minha canga no meio do parque e tomar sol de biquini e shorts. E vou ganhar marcas de sol estranhas nas pernas. Vou andar de patins pra lembrar como se cai. Vou escrever durante as madrugadas e acordar cedo para ir às aulas novamente. Vou dormir à tarde e esperar o despertar. Vou pra Cuba, Colômbia, Peru, Equador, El Salvador, Santo Domingo y Puerto Rico (no ritmo da música). Vou tomar um porre, vou tomar friagem, vou tomar café. Vou andar descalça, vou falar palavrão, vou gritar de raiva. Vou entrar no mar, vou cortar meu pé, vou bater o cotovelo na quina da estante. Vou fazer dieta, vou comer merengue, vou dizer “amo você”.Vou morrer de rir, vou chorar de emoção, vou abraçar apertado. Vou acreditar na vida e em suas razões. Vou plantar uma árvore, vou passar vergonha, vou cumprir os prazos. Vou conhecer gente especial e amar com força. Vou odiar mamão por mais um ano e, por mais um ano, vou gostar de arroz-doce com muito leite-condensado e raspinhas de limão.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Hoje


Procuro uma alegria
uma mala vazia
do final de ano
e eis que tenho na mão
- flor do cotidiano -
é vôo de um pássaro
é uma canção.

Carlos Drummond de Andrade

Viajando...


Sorriso de menina, semana de mulher, festas de menina e responsabilidades de mulher. Menina ou mulher? Em um momento que tudo parece estar passando por um turbilhão, nada é certo e tudo pode sumir como areia entre os dedos. Pensei na menina e na mulher.

Saber o que quer, decidir como será. Certezas que tranqüilizam, mas que iludem quando acreditamos que são certas. Mudamos todos os dias, minutos e instantes. E aos poucos percebi que não existem certezas, elas passam rápidas como o tempo que nunca é igual e que nunca repete os segundos. Ontem e hoje são tão velozes que se confundem. Tenho medo de perder, mas também de ter, de deixar passar e por isso quero tudo, mas também não quero nada!

Encantamento e aflição de saber que tudo passa, que novas fases vêm. Que esse mesmo tempo que passa rápido cicatriza corações machucados, ajuda a suspirar de novo, sentir frio na barriga, começar em outro lugar e lembrar de tudo como o algodão doce que comíamos nas festinhas de criança. Passa, menina, passa mulher. Tempo que é triste também, que para fazer esquecer precisa levar algumas das boas lembranças. Tempo. Coisa engraçada, difícil de medir a quantidade, mas fácil de saber seus resultados.

Um ano novo, com promessas e mistérios. Com surpresas e gostinho de diferente. Sempre durante essa época penso no que vai mudar, as pessoas que irei conhecer e o que vou viver de novo. Viagens, amores, amizades... penso, mas deixo tudo para que Iemanjá planeje no segredo das sete ondinhas e nos desejos misturados com champgne e felicidade!

sábado, 15 de dezembro de 2007

A menina trapezista


Se sentia uma menina. No carro, sonhava em voar. Mas se contentaria com um trapézio, balançando em camêra lenta, quando de cabeça para baixo pudesse sentir o vento em sua cara. Enquanto isso uma música tocava, às vezes triste, às vezes infinito. Pensando bem, queria era que a vida toda fosse em câmera lenta, para poder sentir mais e melhor aquilo tudo que ela sabia que existia e que se chateava às vezes por não conseguir enxergar.
Seu impulso pela vida era do tamanho do balão, justamente aquele, que ela imaginava que iria levá-la para longe, lá onde não é necessário acordar, porque não existe o cansaço nem a obrigação. Onde a dor só existe em forma de poesia.
Isso porque ela sabe que a dor pode ser bela. Mas não aquelaque ela sentia de vez em quando.A dor da espera. O cansaço fazia dela fraca. Não suportava não poder pularde vida em vida.
E logo depois se impedia de voar. Porque quando olho aberto, o cansaço voltava. Doia bem ali, do lado esquerdo-direito, cima-baixo. Queria um travesseiro que fosse feito de amor e conforto.
Como se fosse menina de novo, pedia proteção. Mas sempre foi tanto, que nem assim. Já haviam falado para ela que só quem protege é a gente mesmo, mas isso de pedir proteção a si mesmo soava estranho.
Tão pequena, sentia-se indefesa, com vontade de chorar porque não pode chamar o balão só fechando os olhos e pensando forte, com os olhos mais do que cerrados, pressionados.
Queria mesmo era dormir. Ou encontrar alguém que pudesse ensiná-la os mistérios do mundo sem nada em troca. Só um abraço que durasse a vida inteira.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Previsão do tempo

Chuva forte, tempo feio e ela de sandálias. E ela odeia molhar os pés. Mas, oras, como adivinharia? O céu daquela cidade não é o mesmo céu que cobre esta cidade aqui. Ah, ela tem certeza disso. Mas o que conforta é que ali, bem na divisa dos “céus” existe uma casinha branca. Ela acredita, apesar de os mapas dizerem o contrário, que aquela casinha ali se ergue metade na cidade dela e metade nesta cidade aqui. E ali, naquela casinha onde o sol banha a varanda, mora alguém que disse, ao pé do ouvido dela, que não vai deixá-la mais molhar os pés. Nunca mais. Tá, ela sabe, com certeza, proteger os pés da chuva, sozinha. Mas ela esquece de separar, para o dia seguinte, sandália e tênis, calça jeans e vestido, camiseta e casaco de lã, como pede esta cidade aqui. E, além disso, como é bom se fazer desprotegida. (Ela sempre acreditou que as princesas dos contos-de-fadas nunca precisaram ser salvas de verdade. Era tudo charme. Elas sabiam, sim, resolver seus problemas sozinhas. Afinal, não há dificuldades em se descer do alto de uma torre, não há veneno no mundo que adormeça alguém por anos e anos, a cinderela poderia arranjar outra forma de ser feliz-para-sempre sem o bendito sapatinho de cristal e quem é que disse que a chapeuzinho vermelho não queria ser comida pelo lobo-mau?) Bom, ela, fazendo charme, abriu concurso para encontrar alguém que, disponível, revelasse, toda noite, na hora de dormir, a previsão do tempo do dia seguinte. E não é que o moço do tempo que ela encontrou, sabe muito mais do que só prever o tempo! Ele sabe fazer dias de verão, em plena madrugada chuvosa. Ele também sabe inventar frentes-frias só como desculpa para se tomar chá quente e comer biscoitos metade-preto-metade-branco. Ah, e claro, sabe pintar primaveras, todos os dias desde o primeiro encontro.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

A levada da breca


Lembra dela? Essa menina era um barato (era?). Pra mim, era. Punky, a levada da breca. Ela se virava sozinha, adorava estripulias, usava essa calça jeans remendada, style, sem se importar com as menininhas-bonecas. Bem resolvida, era a Punky. Eu gostava dela, gostava, gostava. Eu colava na TV pra ver a Punky, e queria a Punky do desenho animado, não gostava tanto da Punky-vida-real - aliás, quando tentava achar a foto desse post, dei de cara com a Punky-vida-real mulher, toda gatona, em matérias com títulos "A Punky Cresceu", "Sabe quem é? A levada da breca"...safados! Deixem a Punky em paaaaaz! rs.

Aliás, quem será que foi que inventou "Punky - A levada da breca"? Muito bom esse nome. E lembra do Glomer? (muito bem colocado, Pó). "Amiga Punky!". Bichinho esquisito que transportava a Punky pra lá e pra cá, quando balançava as orelhas. Fui atrás da música de abertura do desenho: "Nunca mais eu vou dizer que essa vida me aborrece. Punky! Deixo pra você resolver só pra ver o que acontece. Puuuunky!" (http://www.youtube.com/watch?v=rAkJuZfs0t0). Que divertido!

Pq conversas sobre desenhos animados antigos sempre rendem muitas cervejas? Todo mundo adora, né. Ontem o Leo contou que, em uma estação de trem, recentemente, encontrou um camarada que queria vender um Nintendo 64. Por 200 paus levou o videogame e pagou a mais pela fita do Mario Kart!!! Eu disse pro Leo que, se ele descolar Donkey Kong, não saio mais da casa dele. Duvida? Eu era fera no videogame (pelo menos sempre ganhava do Rodrigo Avancini, meu quase-namoradinho da infância). Que é, videogame tb é cultura, sô! Finito.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Nada Será como Antes


Crítica de música também é cultura. O jornalista inglês Simon Reynolds, escrevendo sobre o músico Morrissey, deu uma das mais belas e precisas definições sobre melancolia que eu já encontrei.

"Melancolia é a fusão sofisticada de dois sentimentos contraditórios. É uma beleza que bate fundo, ou uma mágoa doce. Qualquer um que tenha idolatrado sua dor, tentado prolongá-la, brincado com a idéia de exacerbá-la; qualquer um que tenha sido levado a demorar-se dentro dela, mesmo quando já pudesse estar recuperado há muito tempo, preferindo a companhia de fantasmas à falta de sonhos da sociabilidade cotidiana, qualquer pessoa nessas condições entende a melancolia."

Lembrei dessa definição neste final de semana quando pensava sobre a dor. Um raio x de corpo inteiro nunca captaria aquela sensação, que no entanto está lá, em algum lugar do pescoço até o estômago. Parece que ela se esconde, e de repente no ônibus, no bar, na piscina ou na cama ela reaparece, aguda, sem respostas, sem perdão.

Você até pode mandar ela embora, ou jurar que nunca mais vai se encontrar com ela. Mas ela teima em voltar, inexplicável.

Do mesmo jeito que ela vem, súbita, ela pode ir embora. Claro, se você quiser. Alguns não querem, não deixam, se agarram nela. Porque às vezes ela pode ser a única e última lembrança de um tempo que já passou. De alguém que se foi. O último suspiro de uma época vivida, de um sorriso conhecido.Aí sim é preciso um pouco de esforço.

Esforço para deixar a dor ir embora, mesmo sabendo que a qualquer minuto de descuido ela volta. Volta cada dia menos, cada dia diferente, às vezes intensa, às vezes quase vento. Suspiro. Por muitas vezes tentei afastar a dor, sofrendo por antecedência. Outras vezes preferi fazer dela minha companhia constante, para não ter que encarar o choque de conhecer a euforia sabendo que um dia a tristeza voltaria.

Eu sei que talvez esse texto pareça triste, e talvez ele seja. O que não quer dizer daqui a cinco minutos eu não posso estar cantarolando uma música do Clube da Esquina, na voz do Milton Nascimento, uma voz que quando eu ouço, consigo sentir naqueles breves minutos tristeza, melancolia, felicidade, profundidade, e todo aquele restinho que a gente não consegue nomear. Pode até ser essa, com o sugestivo nome de Nada Será Como Antes. Tão simples que chega a ser óbvio, mas é bom sempre lembrar que um rio nunca passa duas vezes no mesmo lugar.

Eu já estou com o pé na estrada

Qualquer dia a gente se vê

Sei que nada será como antes, amanhã

Que notícias me dão dos amigos?

Que notícias me dão de você?

Alvoroço em meu coração

Amanhã ou depois de amanhã

Resistindo na boca da noite um gosto de sol

Num domingo qualquer, qualquer hora

Ventania em qualquer direção

Sei que nada será como antes amanhã

Que notícias me dão dos amigos?

Que notícias me dão de você?

Sei que nada será como está Amanhã ou depois de amanhã

Resistindo na boca da noite um gosto de sol

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Sonhar


Em tempos de imprecisões, confusões, desilusões...os sonhos continuam aqui. Tem sonho que já virou realidade e às vezes eu nem percebi porque já tem outro sonho pra sonhar, pra viver. Tem sonho que eu já nem lembrava que um dia sonhei e que, de repente, bate na porta como criança pedindo doce, pedindo para ser sonhado de novo. Os sonhos vão trilhando os caminhos. Sigo caminhando. E nem percebo que tudo está passando rápido, tão rápido feito estrela cadente.
“A vida necessita de pausas”, disse Drummond. Concordo com ele. Senão fica tudo atrapalhado, amontoado. Sonhos embaralhados. Tudo fica querendo ser alcançado. Calma, uma coisa de cada vez. Mesmo assim sonhar é bom. Como é bom, mas na medida certa ou o sonho vira quimera.

Aqui deixo um pouco de sonho, não aquele com goiabada que minha avó fazia, mas aquele que se fantasia. Um sonho impossível, descrito por Miguel de Cervantes, lá em Dom Quixote de la Mancha.


Sonho Impossível

Sonhar
Mais um sonho impossível
Lutar
Quando é fácil ceder
Vencer
O inimigo invencível
Negar
Quando a regra é vender
Sofrer
A tortura implacável
Romper
A incabível prisão
Voar
Num limite improvável
Tocar
O inacessível chão
É minha lei, é minha questão
Virar esse mundo
Cravar esse chão
Não me importa saber
Se é terrível demais
Quantas guerras terei que vencer
Por um pouco de paz
E amanhã, se esse chão que eu beijei
For meu leito e perdão
Vou saber que valeu delirar
E morrer de paixão
E assim, seja lá como for
Vai ter fim a infinita aflição
E o mundo vai ver uma flor
Brotar do impossível chão

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

A Via Láctea

"Sentimentos à deriva"
"Avance para viver"

Chuva Interior

Quando saia de casa
percebeu que a chuva
soletrava
uma palavra sem nexo
na pedra da calçada.

Não percebeu
que percebia
que a chuva que chovia
não chovia
na rua por onde
andava.

Era a chuva
que trazia
de dentro de sua casa;
era a chuva
que molhava
o seu silêncio
molhado
na pedra que carregava.

Um silêncio
feito mina,
explosivo sem palavra,
quase um fio de conversa
no seu nexo de rotina
em cada esquina
que dobrava.

Fora de casa,
seco na calçada,
percebeu que percebia
no auge de sua raiva
que a chuva não mais chovia
nas águas que imaginava.

Mário Chamie

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

ai, aquela mancha...


Resolvi escrever de uma maneira diferente. Sentada em um bar, relembrei uma história e pensando nela imaginei uma crônica daquelas que podiam se tornar filmes. Sempre ouvi dos outros que minha vida é uma novela mexicana e eu não duvido.

Estava tudo pronto! As malas, o presente para a família e o friozinho na barriga que custava a diminuir. Era uma situação nova, mas que, apesar daquele medinho, estava ansiosa querendo que chegasse logo. Chegamos. Uma casa grande e bonita. O frio se tornou em uma nevasca! Não sabia muito bem o que fazer, ficava parada, sem nem saber onde colocava meus braços. Entramos. Na mesa da cozinha já avistei um bolo de dois andares e uns três pães caseiros. Imaginei a saudade que eles estariam do filho.

O pai ajudou com as malas e seu sorriso me confortou um pouco, a mãe acordou só para abraçar o filho e saber quem era a menina que estava "roubando" ele de seu ninho. Fiquei calada, nem comer eu conseguia. Chegamos tarde e logo fomos dormir. Eu com as primas e irmã e ele sozinho e com a porta do quarto aberta! Combinamos que assim que acordasse ele me chamaria, não queria descer sozinha.

Abri os olhos e vi minhas companheiras de quarto descendo felizes da vida, usando um pijaminha cor-se-rosa com lacinhos. Sabe quando você acorda em um lugar novo, não entende muito bem o que está acontecendo e faz tudo por impulso? Pulei da cama e quando vi já estava na mesa do café-da-manhã com as meninas rosas, com o pai e a mãe. E ele? Boa pergunta! Ou melhor, a boa pergunta seria: pq não pensei antes de fazer as malas??

Todos com hobbys, laços e pantufas macias. Depois do susto consegui me olhar. Mini shortinho e um moleton, mas não era qualquer moleton. Ele ainda tinha o charme de estar rasgado na gola e mangas e para completar o modelito uma grande mancha de chocolate no meio do peito! Pensei oq seria melhor esconder: as pernas, a mancha, o rasgo! E ele? Desceu depois de quinze minutos de banho tomado e vestido. A mãe que já me olhava mesmo com trajes normais deve ter se divertido com tudo aquilo. Me trocar? Acho que essa idéia não ia ajudar. Já estava feito, todos já tinham visto e me trocar ia ser assinar embaixo da vergonha! Conclusão: tentei esquecer dos meus trajes, tomei meu café e subi p/, finalmente, me trocar!

A viagem não acabou por ai, nos próximos posts eu conto a tarde de sábado e a feijoada na casa da vovozinha doida no domingo!

Algodão salgado


Às vezes o algodão doce é salgado e não derrete na boca. Anteontem, no carro, fiquei pensando, pensando alto-baixo: pq a gente não pode ouvir de novo uma música no rádio? Tem que esperar ela voltar, um dia, em um momento diferente, ter a sorte de encontrá-la pelas estações? Deveria existir um botão pra gente apertar e a música tocar de novo. Aí pensei que seria bom se existissem botões em vários lugares. E tive a sensação de que as coisas por vezes estão demasiadamante tortas. Não podem ser como são. Quis ter um botão pra matar a saudade, tirar o medo, pra me esconder em um lugar embaixo da terra, com os gnominhos - aqueles que eu colecionava criança -, ao lado de uma lareira, lugar nem muito quente nem muito frio, apenas eu e os gnomos meus, num tempo infinito. Quase não consegui imaginar, quase pedi um botão para imaginar, pode? Pode. Lendo os pensamentos das Meninas de Lá, tão únicos, fortes, individuais, mas tão iguais, aí eu penso pode sim, pode. Todo mundo em algum momento do dia, ou da semana, ou do mês, ou do ano, quis ter múltiplos botões, e quis comer algodão doce sempre, como se todo dia fosse doce e fosse sexta. E encontrou um gosto salgado. Quem disse, no entanto, que o doce não é salgado e o salgado não acaba sendo doce? É bonito de ver o movimento do açúcar na máquina de fazer algodão. Ele se transforma tão rápido! Dia desses, o fotógrafo queria fotografar o fio de algodão nascendo, mas não dava, logo virava montes de algodão, logo virava sorriso da criança, saliva doce, lembrança. Pq se transforma depressa demais? Talvez nunca me esqueça daquela casa, da expressão daquela mulher, o açúcar voando no meu rosto, o cenário meio circense, o Apito, o bebê. Agora, fugi da minha matéria e vim pra cá, de madrugada. Aqui estou presente, e nem ligo, ó! Às vezes é salgado demais. Pq a gente precisa desligar o rádio e voltar? E se diz, a vida nem é da gente...

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

até que...

Resolvi. Vou escrever, mesmo que a inspiração não venha. O início é sempre mais difícil.
E digo mais, a inspiração vem, ela tem vindo, em doses homeopáticas. Momentos, momentos de felicidade, de sanidade, de realidade.
De repente nada é tão grande que não possa ser deixado para trás, num gesto de tranquilidade e aceitação. Aceitar a Vida e extrair dela o possível. Sem esquecer do impossível, porque esse é o combustível.
Aos poucos as coisas ficam menos turvas, menos fim e mais começo. E as lembranças, as boas, ficam ali guardadinhas nos cantinhos, às vezes felizes, às vezes melancolia.
Mas algumas coisas persistem, mudam, resignificam... e aquele poema que era só nosso, agora posto aqui para virar de todos:

"Isso de ser
exatamente aquilo que a gente é
ainda vai nos levar além"
Grande Leminski.

Meninas, amo vocês, cada dia mais. Ainda escrevo sobre as mulheres, porque quem não tem amigas não sabe o que é viver...
Até breve.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Tarde de Verão


Dormir abraçada com minha gata, passar a noite em claro conversando, me espreguiçar, comer a pelinha da unha, dançar, rir de coisas bobas, acordar sem o despertador, tomar sol e mergulhar no mar. Assim como a francesinha Amelie Polain, acho que todos nós temos pequenos prazeres que quando acontecem fazem pensar em como é gostoso viver e estar vivo.

Sentir o vento batendo no rosto. Acho que o que nos mata é a pressa que somos obrigados a viver. Correndo sempre, atrasado, olhando para o relógio sem parar. Estes pequenos momentos acabam passando batidos e o que sobra? Só a correria. O mar dá lugar ao carro, o vento à fumaça, a gatinha à solidão. Não sei se existe cura para este mal, mas, depende de cada um de nós tentar.

Cantar bem alto. Sinto que o momento que conseguimos nos desprender e sentir tudo com mais leveza é quando viajamos. Assim como o gnomo da Amelie. Parece que deixamos tudo guardadinho em casa e fazemos uma mala cheia de surpresas e não sobra nem uma bolsinha para as preocupações. Nas viagens, o atraso é para chegar antes do sol se pôr, mas se descansar foi a escolha, assistir o final do dia já conta pelo dia inteiro. Dormir pouco, acordar cansado no dia seguinte não é um problema, até por que o motivo do relógio ter andado tão rápido na noite anterior e de você não ter visto deve ter valido a pena e o cansaço não vai fazer cansar.

Dançar e rodopiar até de manhã. Por que será que é tão difícil viver com mais leveza, por que as coisas parecem ser tão complicadas e cheias de perguntas, quando a solução está na simplicidade de ver tudo como é. Sempre com nossos medos, desconfianças e receios. Quando tudo é o que se vê. Por que o não é inaceitável se todos nós já falamos e ainda vamos falar muitas vezes? Por que as surpresas se tornaram cobranças e os carinhos compromissos? Quem inventou essa lei que ser seguro é viver na superficialidade.

Beijo na testa. Deixar a vida levar, para onde quer que as coisas queiram caminhar. Parece fácil falar, certo? Mas fácil que falar é difícil viver. Mesmo assim, garanto, você pode ter acostumado uma vida inteira na insegurança de ser segura na incerteza de ter uma vida certa e regrada. Se você passar um dia apenas e experimentar um pouquinho dessa leveza, pode ter certeza que mesmo com o costume, vai ser difícil ver tudo com a segurança de antes. Até por que, como diriam os mais trágicos, na vida a única certeza que temos é a morte. Antes do não pense que com sim vem como brinde estes momentos que só percebemos o quanto são bons quando estamos preparados para.

Se ficou parecendo um texto de auto-ajuda, acho que por mais que não tenha o hábito de ler, vou ter que admitir que se estes autores conseguem seguir a vida assim e até escrever um livro inteirinho sobre, são pessoas iluminadas. Sorriso de criança, comer uma coxinha de madrugada, receber uma mensagem inesperada. Ai está o grande segredo, pequenos momentos que fazem uma grande vida.

E por falar em poesia

E por falar em poesia – e não me refiro somente a capacidade ou a arte de se fazer sensibilidade e flores com a ponta do lápis – tenho mania de dividir as pessoas no mundo em duas categorias: com poesia e sem poesia! E não é de primeiro enxergar que se percebe a categoria de cada um...Ah, leva tempo, sabia? Mas existem as primeiras impressões, que me fazem, às vezes, querer não ter passado disso com certas pessoas. Afinal, com alguns, o encanto simplesmente desaparece após o primeiro contato.

Quero contar um exemplo de uma primeira impressão um tanto quanto marcante, um tanto quanto poesia. No ônibus, um dia, pus-me a ouvir a conversa de um casal sentado à frente. Tá, feio, talvez, mas gosto da forma como pessoas desconhecidas podem variar o uso das palavras e com essa escolha chega aos meus ouvidos. Claro, o tema, também, ás vezes, faz cócegas em minha curiosidade. Mas...voltando ao assunto, ouvindo a conversa, vi que formavam um casal simples, de vestir roto, cujo falar fugia às regras da tal gramática normativa. Talvez nordeste, talvez Ceará ou Paraíba, não sei. O assunto que discutiam, confesso não me lembrar de nada, mas o soar das palavras me comovia. O carinho com que se tratavam, mesmo com o vocabulário pouco, um tanto quanto Vidas Secas, também. E, em meio a tudo, cantaram a palavra “desorbitado” – “Tal pessoa era desorbitada”...Aquilo chegou em mim com uma potência. A associação feita, a delicadeza da palavra usada, tudo me fez enxergar a poesia que trasbordava ali, daquele Fabiano e daquela Sinhá Vitória. E ainda se completou o lirismo quando ele, de olhos claros e barba ruiva, já se levantando, disse: "- Sente aqui moça."

Tá, eu sei, a história pode surgir como o “Sim em uma sala negativa”, como bem fez João Cabral ao apresentar a poesia sofrida dos Severinos dessa vida. Ou plantada como foi plantada toda a poesia do mundo no sertão de “O Céu de Suely”. Ou como em tantas outras manifestações artísticas que transformam dramas sociais em Manacás da Serra, em tempos de primavera. Mas aqui não era minha intenção, juro! Foi a primeira impressão, pintada dentro de um ônibus lotado, onde a universitariazinha da Puc aceitava o lugar de um dos Fabianos ou Severinos dessa terra. Contradições, preconceitos, ilusões, mistificações, pode sim, ser tudo isso...mas eu só queria a poesia!

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Só poesia


Como pode a poesia estar em tantos lugares ao mesmo tempo? Está em todo lugar, você viu? Hoje eu vi uma pomba voando enquanto recordava, ouvindo o cavaquinho de Warley Henrique. Paz. Hoje eu vi uma pomba voando na rua, um velhinho passando, um policial careca olhando e a poesia rindo-se de tudo isso, deliciada. A poesia rindo-se, chorando? Que linda é essa música, Recordando. Como pode existir música em tudo isso e a gente só ouvir quando decide ouvir ou a vida diz "Escuta!"? Se a gente parasse para reparar a todo instante como tudo é tão lindo, tão perfeito, uma só coisa, talvez não precisasse trabalhar, não precisasse andar, respirar, sofrer, chorar. Porque só o que a gente precisa é amar os instantes, como eu amo escrever neste blog e amo ouvir esta canção, agora.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

A menina e o ratinho


Remy, você, me olhando com que olhos. Essa carinha que me mata, que me faz querer tomar sorvete em Paris todos os dias, mesmo em dias mais frios! Não faz essa carinha que meu coração vira um pedacinho de nada, e tenho medo de, sem-coração, não passear com você daquele jeito que passeamos, você lembra? Às vezes me vem uma saudade de alguma coisa que eu nem o que é, nem de donde. E eu também, Miguilim, senti vontade de falar com meu anjo da guarda. Esquenta, não. Aperta. Não me olha, assim, Remy, mas não deixa de olhar, pode? Vamos passear por Paris em nossos sonhos, vamos brincar de abraçar, vamos deixar de lado a flor e o sorriso, um instantinho só - instante qual? - e guardar o amor. Guarda este segredo: é de Diadorim que você deve de me chamar. Vamos distribuir amor, sem medo, não é, Diadorim? É você, Remy. Somos nós: a menina e o ratinho. Se sim ou se não, você, com que olhos!

Surpresas e diamantes

Gosto tanto de surpresas. E não digo só das surpresas momentâneas, feitas por alguém em plena consciência de fazê-las. Mas aquelas surpresas que só são visíveis pr’os nossos olhos, sabe? Tipo quando nos surpreendemos com coisas à toa para o mundo, mas pra gente...ah, pra gente fazem o mundo.

Ando me surpreendendo constantemente com certas pessoas que caminham ao lado. A própria Menina de Lá que, em uma manhã de sábado, me mostrou, em uma conversa, como é crescer de um dia para o outro, como um corte de cabelo pode revelar mais do que uma simples mudança de visual, mas uma mudança da menina para a mulher. E como é preciso ser gente grande para tomar certas decisões e como certas decisões podem doer...mas no final, ah! no final, tudo dá certo, sempre.

Bom, e têm outras pessoas que ultimamente vem me mostrando outras formas de enxergar o mundo, me deixando menos virginiana, menos menina, e maior. Maior em intensidade, maior em potência, maior por simplesmente estar aprendendo a agir com mais leveza. Tá, eu sei, isso já devia estar guardadinho dentro de mim (claro que estava!) mas, certas pessoas, simplesmente, despertam a vontade de pôr pra fora e de me tornar alguém melhor.

E, em meio a turbulência de sentimentos e sensações vindas de todas as partes das Meninas de Lá, frases soltas e desconexas fazem o meu mundo...

Pessoas surpreendentes me encantam
Mini-chicabon é um pedacinho do melhor sorvete do mundo
Ver a amiga chorando me deixa sem ação e sem palavras
Preciso entender que não dá para abraçar o mundo
Acredito que a incerteza faz parte da entrega
Adoro quem me faz rir
Não gosto de cafuné, mas ando aprendendo a fazer
João Rosa me faz chorar, sempre
Quero aprender assobiar
Fome e sono me deixam de mau-humor
Não há explicação pra tudo. Mas há sensação
Gosto de geléia com manteiga e de brigadeiro com bolacha
Frio dói
Desamor, desinteresse, descaso, despreocupação também
A distância e a frieza de alguns momentos são só disfarces
Dias de sol pintam sorrisos
Queria poder tirar dores com as mãos
Demoro muito para escolher roupas de manhã
Ainda acredito em honestidade e mundo melhor
Me irrito fácil, entre outros muitos defeitos
Me casaria com o cigano Mickey (Brad Pitt) de Snatch – Porcos e Diamantes
Salada de fruta não deveria ter mamão
Dizem que pequenos deslizes e desvarios fazem da vida melhor. Passei a concordar
Poesia e prosa fazem parte das minhas alegrias
Acredito no amor de hoje porque amanhã ninguém sabe o que sente
Queria ser grande o bastante para conseguir enxergar as coisas como crianças
E, de verdade, “quero uma casinha onde mora o sol poente, pra finalmente a gente, simplesmente, ser feliz.”

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

A Idade do Céu

Deixe que o tempo cure


Tem dias que a inspiração não vem, definitivamente. Hoje eu queria dizer, sentir e cantar muitas coisas, mas nada vinha à cabeça. Foi quando, me lembrando do feriado em terras cariocas, me surgiu uma música que escutei repetidas vezes por lá. É um trecho da versão de Paulinho Moska para a canção: “A Idade do Céu”.
Que ela diga por mim.


“Não somos mais
Que uma gota de luz
Uma estrela que cai
Uma fagulha tão só
Na idade do céu...
Não somos o
Que queríamos ser
Somos um breve pulsar
Em um silêncio antigo
Com a idade do céu...
Calma!
Tudo está em calma
Deixe que o beijo dure
Deixe que o tempo cure
Deixe que a alma
Tenha a mesma idade
Que a idade do céu...”.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Linda, Teresa



Entre estradas de sol e meditações, fico hoje com maracangalha, na voz dela.

Maracangalha
(Teresa Salgueiro)

Eu vou pra Maracangalha eu vou
Eu vou de uniforme branco eu vou
Eu vou de chapéu de palha eu vou
Eu vou convidar Anália eu vou
Se Anália não quiser ir eu vou só
Eu vou só eu vou só
Se Anália não quiser ir eu vou só
Eu vou só eu vou só.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Bebidas e Verdades


Ressaca brava daquele sábado narrado em um dos últimos posts. Aquela dor de cabeça, estômago embrulhado e vontade de ficar no meio das cobertas o dia inteiro, como se você fosse uma larvinha e quando saísse de lá se transformaria em uma linda borboleta e esqueceria, de vez, de tudo o que havia passado na noite anterior.

Mas uma hora você tem que levantar e quando sai do casulo, as coisas começam a aparecer como um filminho na sua cabeça. Pena que muitas vezes, esse rolo do filme queima e você não consegue assistir a cena até o final. Amnésia, mas não total. Você lembra só da metade, sabe que disse, mas não exatamente o que e como. Ainda pior são aquelas ligações. "Você não lembra o que fez?", "E aquela hora o que você falou tal coisa....".

Sempre que isso acontece eu quero me enfiar em um buraco como uma ema, assim como diria nossa mais nova Menina de Lá. Dessa vez não foi diferente. Mas estava pensando agora a tarde, será que quando ficamos completamente bêbados não colocamos para fora quem nós realmente somos? E se nós nos comportássemos como bêbados sempre? Será que tomaríamos mais banho de chuva, daríamos mais risada, não nos preocuparíamos tanto com o que os outros acham?

Acho que o grande feito do álcool é tirar essas máscaras que fomos acostumados a ter e usar. Embriagados nós soltamos nossas vontades e mostramos mais quem somos de verdade. Mas agora vai minha pergunta e se uma de vocês souber responder, por favor, fiquem à vontade. Por que nos arrependemos no dia seguinte?

domingo, 11 de novembro de 2007

Para as lindas meninas de lá

A idéia era postar um áudio com um trecho de Grande Sertão narrado por um miguilim em Cordisburgo, chamado "A revelação do nome". Por falhas tecnológicas, transcrevo: Reinaldo conta a seu grande amigo Riobaldo que seu verdadeiro nome é Diadorim. "Sempre que estivermos sozinhos, é de Diadorim que você deve de me chamar", ele diz. Riobaldo entende: "Amizade nossa ele não queria acontecida simples, no comum, sem encalço. A amizade dele ele me dava, e amizade dada, é amor".

Os embalos de sábado à noite

Vila Madalena, dez pra uma da manhã. O encontro foi na padaria, depois de algumas dezenas de minutos esperando a amiga do interior. As duas conversavam sobre a vida e a outra chegou para cortar o assunto e acelerar a ida. Afinal, tinham outro destino: a Comunidade João Ramalho, onde rolava a festa. Mas precisavam contribuir com cervejas, por isso, o ponto de encontro na padaria (e olha que mesmo estando em uma padaria ao invés de um supermercado 24 horas, elas conseguiram pagar um preço justo).

Saíram de lá rumo a festança, mas decidiram fazer uma paradinha antes. No bar da frente.
- Por favor, você tem tequila?
- Tenho sim.
- Três doses, por favor.
- Ouro ou prata?
- Qual a diferença?
- Ah, a ouro é melhor.
- Então pode ser a ouro, mesmo.

Enfim, na frente delas, três copinhos, limões e sal. Elas no balcão e todos ao redor com olhos arregalados e a pergunta: elas são maiores de idade? A de olhos azuis não sabia muito bem como fazer. As outras duas também não eram as mais entendidas, mas disfarçavam.
- Como é que faz?
- Chupa e toma. (Risos)

Sal no limão, limão na boca e um, dois e três, vira-se o copinho. Em volta uma platéia entusiasmada, que parecia não acreditar no que elas faziam, mas riam. Mas a primeira tentativa não foi muito boa. Não chegaram nem a metade do copo. Mais limão, mais sal e outra vez vira-se o copinho. Um delas acaba e a platéia vibra. As outras duas disputam o segundo lugar.

Pagaram e tiveram direito a um chorinho. Mais um copo, vira-vira, cada uma de uma vez. Por fim, despediram-se, recebendo aplausos da platéia. Seguiram, com calor e bochechas cor-de-rosa. Que bom sair da Vila, fora de todo aquele trânsito.

Duas horas da manhã. Chegaram ao lugar. Muita gente bonita, diversão e clima de paquera (risos!). Mas, de verdade, a música era ótima. E estavam todos os queridos para rir junto, dançar junto e bater papo bom. No meio da muvuca encontraram A Menina de Lá que faltava. E mais pra lá do que pra cá, mesmo. Aliás, as quatro. Engraçadíssimas.

Noite boa, para se guardar. Elas e todos os queridos que são parte delas fazem tão bem! E como diria Drummond: “Mas essa lua, mas esse conhaque botam a gente comovido como o diabo”.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Convite


Ele é morena, cabelos enrolados, olhos escuros, tanto, que lembram bolas-de-gude e, se tivessem sabor, seriam de jabuticabas. Virginiana como eu, ela tem a sensibilidade à flor da pele. No início, achava que ela sabia disfarçar sensações e sentimentos, tão diferente de mim, apesar da mesma influência no zodíaco. Mas ao longo do tempo, descobri que não sabe disfarçar nada. Ela revela no olhar, nas respostas, nos abraços as alegrias e tristezas, as raivas e doçuras, a bondade e a irritação.
Ela tem o canto dela. E que respeitem isso e saibam chegar, minha gente. Parece que carrega no colo, no sorriso, no andar danças e poesias! Carrega também a insegurança das grandes mulheres. Porque sim, grandes mulheres também são inseguras, mas sabem lidar com isso, trabalhar isso, mesmo que seja chorando, escrevendo, gritando, dançando, fechando a cara...
Ultimamente, ela anda bem bossa nova. Com aquela melancoliazinha disfarçada pela melodia gostosa. Por isso e por outros tantos motivos, as Meninas de Lá gostariam de convidá-la a escrever aqui, com a gente, quando tiver vontade. Botar pra fora o que tem dentro, ou não! Ou usar o espaço pra escrever engraçadices, ou besteiras, ou poesias ou conselhos. Enfim, fazer do nosso cantinho, dela também.
Geó, divide a sua poesia com a gente?

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Paciência





Enquanto o tempo
Acelera e pede pressa
Eu me recuso faço hora
Vou na valsa
A vida é tão rara...

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Elas com elas


Quinta-feira. Estavam as quatro. Umas na cervejinha, outras no sanduíche de berinjela. Rindo, sonhando e lembrando canções bregas, aquelas da adolescência, hits da época. De tudo teve um pouco. Conversas cruzadas, mais amigas, gente estranha, uma mesa pequena, depois uma mesa grande. Além dos trechos daquelas músicas que ninguém sabe o porquê guardamos na memória, estivemos em tantos lugares. Viajamos. Fomos bem longe. Estivemos no Acre e constatamos sua existência. Claro, tudo não passa de uma boa piada. Caminhamos também lá pras bandas do Suriname, da Guiana Francesa, de Santo Domingo, de El Salvador. Até no Panamá e em Roraima nós passeamos. Pena que esquecemos do Piauí, uma pena, mas fica pra outro dia, junto com todos aqueles lugares que ainda iremos visitar.
E rimos e sonhamos. Mais tarde cada uma foi para um lado.

— Que saudade!
— Nos vemos amanhã, honey?
— Claro, a gente se liga.
— Tchau, Naneto, boa praia.
— Vamos, Jô, tem um táxi ali.

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

medo


O Post que falo aqui é o da Ana, não da Nana!


O medo. Quer sentimento mais estranho e indecifrável que esse? Podemos ter medo de barata, de trovão, de prova de matemática. Mas também existem aqueles medos, assim como minha amiga honey postou abaixo. O medo de seguir em frente e viver aquilo que a vida nos reserva e que por causa desse sentimento tão estranho, deixamos p/ trás. Os psicólogos diriam que até no caso da barata deve ter sido algum trauma que tivemos e não sabemos identificar. Eu tenho que concordar com eles.

Além dos traumas, acho que todos os medos que temos são impostos por uma sociedade. Pq temos medo de barata e não temos medo de mosquito? Eles são até que parecidos. E por que temos medo de trovão e não temos do sol? Será pq trovão faz barulho? Mas tanta coisa faz barulho atualmente e não sentimos medo.... e pq temos medo de sofrer, de chorar? Se, cedo ou tarde, acabamos sofrendo? Se a primeira coisa que um nenê faz quando nasce é chorar.

Acho que é assim que funciona também em relação ao medo do futuro, retomando novamente o post abaixo. Realmente é muito mais fácil viver naquela rotina: trabalho, faculdade, bar, balada, cama. Está tudo certo e sabemos oq nos espera no dia seguinte e no outro e no outro. Mas e aquele friozinho na barriga? Onde ele fica nessa história? E o sorriso que cisma em não sair do rosto? E descobrir uma pessoa que não tem nada a ver com vc, mas você não consegue sair do lado dela?

Por algum motivo, que não sabemos explicar e nem identificar, temos medo. A minha pergunta é: se alguém inventou que temos que ter medo de barata, quem inventou que temos que ter medo de viver, se envolver e deixar levar?

Sei que é difícil, mas não impossível. Acho que temos que começar do zero e ver tudo como uma página em branco de um daqueles cadernos novinhos que nossas mães compravam no começo do ano e ficávamos tão felizes ao abri-lo e usa-lo pela primeira vez. E, aos poucos, vamos escrever de novo, uma nova história. Lembrando sempre a matéria que tivemos nos outros anos, que aprendemos com elas, mas q. passaram e oq temos agora são folhinhas brancas prontas para uma etapa nova!

Ensaio


Ela nasceu Nana, mas Giovanna é sua guerreira. Uma menina-velha que adora brincar com as palavras, só que ainda não descobriu se prefere amarelinha ou gira-gira. Enquanto isso, sai por aí com sua flor amarela e laranja no cabelo, cantarolando e dançando em pequeninas terras-sertanejas e pedras belas. Tudo o que é zen a atrai. Adepta da antroposofia e de florais. Sua sensibilidade, que hoje traz paz, foi durante muito tempo motivo de medo. Ridiculus! Comer fruta do pé faz ela se sentir um macaquinho feliz. É das montanhas a moça, mas ultimamente anda desejosa por mar. Doces, hmmmm! Mas vive uma fase natureba. Há, em sua vida, agora, um excesso de "mas", como havia na de Miguilim um excesso de adultice. Mas é bom! Rs. Brincar é bom! Vontade de dançar não falta, falta é priorizar. As amigas são poderosos amuletos que a vida põe em nosso pescoço - o que fazer com ele, cabe a nós. Escrever é uma delícia, e às vezes, ai, um suplício. Com a ajuda de fadas ela tem descoberto algumas vontades meio escondidinhas, dessas que dão na gente uma hora ou outra na vida. Fotógrafa agora ela é, metida andando com a máquina pendurada no peito e rindo, sapeca, do sorriso curioso dos motoristas. Roxo é sua cor preferida. Rita, sua santa. Mãe terra e yoga, uma nova conexão. Pais, heróis desmitificados. Comida, gosta de todas, mas talvez só por uma massa seja capaz de passar vergonha em bistrôs parisienses. Nunca foi chegada em animais, embora tenha passado a infância toda tentando cuidar de coelhos e pintinhos (desastrosamente). Tem duas irmãs de alma. Irmãos de sangue, são companheiros e seus filhotes. Dorme com bichinhos de pelúcia e quando as coisas apertam muito, só a Siumara resolve e presença de mãe. Dia chuvoso e nebuloso é bom demais. Muito calor, só em dias preguiçosos. Seu homem ela escolheu, e cedo entendeu que o verdadeiro amor mora dentro da gente, e não fora. Criança dá uma baita paz. A menina medrosa que vivia dentro dela, no entanto, ficou na tenda. É tagarela! Tem tentado falar menos e ouvir, com mais presença, o que os outros têm a dizer. Esquenta e esfria, aperta e afrouxa, sossega e desinquieta: o que a vida quer da gente é coragem. É. Jornal, já sabe: não quer. Ficar melecada é irritante, mas da última vez em que tomou um banho de limonada, não foi tão ruim assim. Um dia, vai ter uma horta em casa e saber cozinhar. Ainda acha que vai atuar em um filme e escrever roteiros é uma idéia atraente. Arte é trabalho. Poesia aqui, lá, em toda parte. Combinação exposição + cafezinho é tudo de bom. Gostaria de ler mais. Convenções sociais a incomodam: conversas sobre o tempo no elevador, pessoas com medo do silêncio e perguntas obrigatórias e-vc. Gente de mau-humor é um saco. Filme bom muda o dia. Flores bonitas pelo caminho, também. Gente que gosta do que faz, também. Quer conhecer o continente africano. E a Índia. Quem sabe ano que vem. Quer visitar muitos lugares, não sabe direito quais. O que ela sabe, de um saber doído e lindo, é que, não importa aonde esteja, quer ficar sempre bem dentro dela.




segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Futuro


Não gosto de planejar o futuro. Me irrita na segunda-feira já programar o sábado, feriados então...apenas nas exceções decido antes meu rumo, quando existe extrema necessidade. De manhã quero cinema e quando chega à noite quero só um banho quente e cama. Hoje quero verde, amanhã amarelo, rosa ou até cinza com laranja. Isso, ao mesmo tempo, é bom e ruim. Ter dúvida sobre tudo é pura insegurança.
Sábado passado, assistindo à peça Aldeotas lá no Tucarena, eu ouvi o encantador Levi, um dos personagens principais e morador da imaginária Coti das Fuças, dizer que “as dúvidas nós que conquistamos” e fiquei pensando, pensando e não é que concordei com ele? Concordei porque ultimamente eu só tenho dúvidas, até das próprias certezas. Se o que é certo é certo por que duvidar? Cheguei numa conclusão: parece que as dúvidas vêm do medo do futuro e daquilo que ele reserva para nós.
No Aurélio, o dicionário, diz que futuro, entre outras denominações, é “o tempo que há de vir. Sorte futura; destino. Que há de ser. Que está por vir ou acontecer; vindouro, venturo...”. E é aí que a coisa pega: temos medo daquilo que está por vir e muitas vezes paramos no meio do caminho já com receio do sofrimento ou mesmo da alegria.
Que bom seria se a gente soubesse logo o destino, que chegasse rápido no futuro pra saber se aquilo vai doer ou não. Só assim o medo não existiria. Ou se existisse, poderíamos saber a causa e, para não acontecer, correríamos para debaixo da cama ou pro colinho da mamãe. Mas se fosse assim a vida não teria tanta graça, teria? Acho que não...
O mais legal é poder dar de cara com as surpresas, as boas e as ruins. Pois é só assim que a gente ama, erra, aprende, abraça, perdoa, ri, chora, canta, dança, e o mais importante, é só assim que a gente vive.
Pois vou fechar os olhos e viver, sem pensar no que há de ser. Venha o que vier! Afinal, o futuro, como bem disse Toquinho em Aquarela, “...é uma astronave que tentamos pilotar. Não tem tempo nem piedade, nem tem hora de chegar. Sem pedir licença muda nossa vida e depois convida a rir ou chorar. Nessa estrada não nos cabe conhecer ou ver o que virá. O fim dela ninguém sabe bem ao certo onde vai dar. Vamos todos numa linda passarela de uma aquarela que um dia enfim...Descolorirá....”.

sábado, 27 de outubro de 2007

Dançando no escuro


Gosto de procurar imagens que me inspirem a escrever no blog, como essa dança de Matisse. Talvez seja porque tenho muitas coisas passando pelo meu coração agora, e é difícil escolher uma delas. Deixo-me levar. Deixo a foto de um simpático ratinho aparecer no meu e-mail e inesperadamente me transportar para Paris! Tomamos sorvete e falamos de amor. Hoje, quero falar de presença, que também é uma forma linda de amor, talvez a mais bela de todas. Ando presente na vida. Sim, presente. Tenho prestado a atenção numa coisa que parece meio banal: a diferença entre estar e estar presente. Presença é quando nos sentimos inteiros em um lugar, aquela sensação gostosa de que a vida já valeu só por aquele momento, aquela troca. Trocas com sua cabeleireira, com o motorista do jornal, com as amigas, com a mocinha do caixa da farmácia, com a criança do carro vizinho...Nessa semana dancei, durante muitos minutos, com os olhos fechados, uma sucessão de músicas bem diferentes umas das outras que pareciam fazer, porém, parte da mesma sinfonia, a minha sinfonia, aquela que eu estava regendo e que me colocou em contato com o melhor de mim. Dancei sentindo cada movimento, leve, deixando a música entrar - me fazer entrar -, sem permitir que me levasse para um lugar distante daquele. Não queria sonhar. Sonhar é bom demais, eita coisa deliciosa, ir pra bem longe, um lugar imaginário, um tempo bom. Mas agora, dá licença que eu quero estar aqui, sô! É o que busco. E o que a gente busca, bem disse-me uma amiga, a gente já tem.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Chocolate com morango

“Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas." Disse a raposa ao principezinho.


Se Bandeira me autorizar, vou-me embora pra Pasárgada. Sei que não sou amiga do rei, mas talvez lá, eu possa me esconder bem escondidinho desses pensamentos-monstros que ficam debaixo da cama ou dentro do armário. Eu andava cultivando sossegos, mas como passe-de-mágica, tudo virou pipoca de microondas. E é por isso que vou pra lá, porque acho que é nesse lugar, no longe, onde o infinito se cruza com o pra sempre, que mora a calma, as tardes de preguiça, os dias para não se fazer nada. Ah! Lá, todo dia, as noites são de chuva para se dormir embalado, e os dias são de sol, para se usar vestidos e flores no cabelo. E nunca se tem amanhã, porque se vive só o hoje...amanhã é sempre distante demais para se pensar. E o ontem, o ontem tem gostinho de stikadinho (aquele chocolate da cantina do colégio, que por fora é chocolate e por dentro é morango).

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

E chove...

Confesso que acordar de manhã, abrir a janela e me deparar com o céu cinza e chuvoso, me deixava no ápice do mau humor. Já pensava no trânsito que iria pegar pela frente, nas pessoas estressadas que cruzaria no caminho, na indecisão entre colocar tênis ou bota, lembrar de pegar o guarda-chuva...
Digo “me deixava”, pois tenho reparado que nas últimas semanas o que aconteceu foi o oposto. Tenho acordado feliz e um pouco mais ansiosa pelo dia que virá, porém, sem me importar se chove, faz sol, frio ou calor. Na verdade, hoje estou admirando todos os fenômenos da natureza em qualquer uma de suas representações. As coisas ficaram mais belas, me parece. Ou eu comecei a enxergar diferente...
Queria divagar mais, pensar mais nisso, entretanto, o corre-corre do famigerado fechamento não pára de me chamar.

Falaremos mais sobre isso depois. Por enquanto deixo esta poesia aqui:

TRADUZIR-SE

Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte
é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte
estranheza e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?

Ferreira Gullar




segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Educando nosso coração














Obs - escrevi esse texto semana passada, acho que meu clima agora é outro, mas não queria deixar de postar




Lembro como se fosse hoje do meu primeiro beijo. Tínhamos combinado que seria na festa de uma amiga, dia 21 de março, durante a música do Titanic. Nessa época tudo começava quando o menino chamava ela para dançar a música lenta. Meu coração quase saiu pela boca quando ouvi o som daquele violino. Assim como combinado, ele veio e ficamos. Ficamos juntos uns seis meses e lembro direitinho que nessa época tudo era permitido, até mensagens no BIP (lembram?) dizendo que amava, o quanto sentia falta, sem pensar nas consequências. O importante era fazer o que sentia. Mesmo que a vontade fosse aparecer do nada onde ele estava, mandar cartas quilométricas, chorar e expor tudinho oq passava dentro de mim.

Tento lembrar quando as coisas começaram a mudar. O momento que eu pensei duas vezes antes de mandar uma mensagem e aquele que nem pensei, já sabia que não tinha que mandar. Mas acho que queria mesmo lembrar quando nem por coincidência eu queria encontrar. Que mesmo gostando e guardando aquele aperto que dói no coração eu me segurasse e achasse que "ele só vai gostar de mim se eu sumir". E eu acreditava tanto naquilo que não era só eu que sumia e sim todo aquele sentimento que tinha alimentado e acreditado.

Queria tanto saber se realmente as coisas funcionam assim e se funcionam o motivo. Depois da história do Titanic outras tantas surgiram e vejo direitinho como ensinamos cada vez mais nossos corações e sentimentos a fazer "aquilo que é certo", o que me deixa triste é que o que é certo normalmente é o que não machuca é o que nos traz segurança. Nós ensinamos nosso coração a pensar, mas quem e em qual momento que nos ensinaram a pensar assim?

domingo, 21 de outubro de 2007

Corridinho

O amor quer abraçar e não pode.
A multidão em volta,
com seus olhos cediços,
põe caco de vidro no muro
para o amor desistir.

O amor usa o correio,
o correio trapaceia,
a carta não chega,
o amor fica sem saber se é ou não é.

O amor pega o cavalo,
desembarca do trem,
chega na porta cansado
de tanto caminhar a pé.

Fala a palavra açucena,
pede água, bebe café,
dorme na sua presença,
chupa bala de hortelã.

Tudo manha, truque, engenho:
é descuidar, o amor te pega,
te come, te molha todo.
Mas água o amor não é.

Adélia Prado

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Encontros e desencontros


Ele é um ratinho que sonha em ser chef. Ela, uma menina-velha tentando descobrir que parte é menina, que parte é velha e que parte é só parte. Como Remy, segue um desejo que nem sabe direito o que é e onde vai dar. Disseram-me, aliás, que eles caminham de mãos bem dadas, o ratinho e a menina, o dia todo, em Paris - ok, o dia todo não, porque ele precisa misturar ingredientes e, ela, palavras. Andam daquele jeito saltitando que a gente anda quando é criança, páram para ver os artistas de rua, sentando-se nos banquinhos coloridos. Observam os casais que trocam alianças nos barcos do Rio Sena e riem, deliciados, do já batido (e nunca batido) ar romântico de Parri. Ela quer sorvete, ele reluta, diz que ninguém faz um sorvete melhor que o do Remy, mas quando vê as três bolas de chocolate (mais de um sabor junto? pelamordedeus) em cima de uma robusta casquinha, o sorvete escorrendo e caindo na calça dela...ahhh, abre o sorriso da foto e nada diz. Com duas casquinhas gigantes, eles resolvem sentar-se à margem do rio. Venta. Os sorvetes pingam sem parar e ela ri, ri. Ele se irrita, acha um pedaço de papel embaixo do banco e faz o papel amassado de lenço. Parece uma burca, Remy! Risos. Achocolatados, presentes, andam de novo pelas ruas de Paris, agora devagar. Acabou o dia. Eles se abraçam, a menina e o ratinho. As mãos dele, pequeninas e geladas, enroscam o pescoço dela e ela só consegue pensar que a pessoa que inventou o sorvete sabia o que era o amor.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Uma noite de verão...


Ligeiramente embriagadas, com algumas cervejinhas e conversas sobre a vida e as pessoas que nela passam, ficam e se vão! É assim que eu e Jessi nos encontramos agora. Ah, e mandando mensagens para a nossa outra amiga que, do outro lado da cidade, nos acompanha em nossa embriaguez. Mandamos a ela, Ana, "aquele abraço" e desejamos um pouco de juizo e moderação nas palavras...E à Nana, dedicamos pensamentos bons e vibramos ao descobrir que as enzimas dela digerem sim bebidas alcóolicas e ela ainda consegue cair na pixxxta elegantemente após algumas long necks.
Enquanto Jéssi se diverte com o cachorro e fuma um cigarro na janela, eu fico aqui pensando nesses prazeres que nascem, assim, das coisas simples e sinceras. Como horas de conversas, conselhos, risadas, segredos e pensamentos solitários nos transformam. E como é bom sentar e tomar uma cerveja como se a quarta-feira fosse férias de verão.

Aliás, alguém se habilita a responder por que não conseguimos que todos os dias sejam assim? E por que São Paulo acelera as vidas como se amanhã sempre fosse o último dia? E por que as pessoas dormem de noite e ficam acordadas de dia? É tão melhor inverter o tempo e colocar tudo de ponta-cabeça!

Bom, acho que não tenho mais condições para divagar sobre coisa nenhuma...

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Vamos ser um pouquinho de Paulinho Moska?


Paulinho Moska - A Seta E O Alvo


Eu falo de amor à vida,
Você de medo da morte.
Eu falo da força do acaso
E você de azar ou sorte.
Eu ando num labirinto
E você numa estrada em linha reta.
Te chamo pra festa,
Mas você só quer atingir sua meta.
Sua meta é a seta no alvo,
Mas o alvo, na certa, não te espera.
Eu olho pro infinito
E você de óculos escuros.
Eu digo: "Te amo!"
E você só acredita quando eu juro.
Eu lanço minha alma no espaço,
Você pisa os pés na terra.
Eu experimento o futuro
E você só lamenta não ser o que era.
E o que era?
Era a seta no alvo,
Mas o alvo, na certa, não te espera.
Eu grito por liberdade,
Você deixa a porta se fechar.
Eu quero saber a verdade
E você se perocupa em não se machucar.
Eu corro todos os riscos,
Você diz que não tem mais vontade.
Eu me ofereço inteiro
E você se satisfaz com metade.
É a meta de uma seta no alvo,
Mas o alvo, na certa não te espera!
Então me diz qual é a graça
De já saber o fim da estrada,
Quando se parte rumo ao nada?
Sempre a meta de uma seta no alvo,
Mas o alvo, na certa, não te espera.
Então me diz qual é a graça
De já saber o fim da estrada,
Quando se parte rumo ao nada?

Labirinto




Porque poesia (também!) sempre me alegra, deixo aqui um pedacinho de mim, roubado do Mario Quintana...

Minha estrela não é a de Belém:
A que, parada, aguarda o peregrino.
Sem importar-se com qualquer destino
A minha estrela vai seguindo além...

— Meu Deus, o que é que esse menino tem? —
Já suspeitavam desde eu pequenino.
O que eu tenho? É uma estrela em desatino...
E nos desentendemos muito bem!

E quando tudo parecia a esmo
E nesses descaminhos me perdia
Encontrei muitas vezes a mim mesmo...

Eu temo é uma traição do instinto
Que me liberte, por acaso, um dia
Deste velho e encantado Labirinto

A Graça da Vida

Acho que essa é uma das maiores graças da vida. É engraçado, quando conhecemos uma pessoa é inevitável deixar de pensar como ela deve ser, quais são seus gostos, seu passado e como será no futuro. Não sei explicar, pode ter sido influencia dos meus pais que sempre falaram tão bem dos momentos que passaram na PUC, mas sabia que dentro daquela bagunça encontraria pessoas maravilhosas que marcariam minha vida. Ainda bem que senti certo e aqui estou.

Fico pensando em nós, como era antes e como tudo aconteceu. Pensando no tempo que não foi tanto assim para a intensidade que temos, mas será que tempo importa? Sempre achei que não. Ai esta uma de minhas características, sou muito ansiosa, passo o dia inteiro balançando o pé para ver se extravaso por algum canto, mas percebi que isso só piora e eu não sei como parar. Gosto de viver intensamente e odeio ficar em casa sem fazer nada, acho perda de tempo. Bom, acho que comecei a viajar em meus pensamentos. Nunca escrevi em um blog, mas acho que isso faz parte, né?

O objetivo inicial deste texto não era falar de mim e sim destas três. Então vamos retomar o raciocínio. Fico pensando... quem diria que aquelas três, a loirinha de risada engraçada, aquela com cara de menininha que conheci logo nas primeiras semanas de aula que falava sempre do tal Ri, ou a outra, aquela que namorava um cara do Gracinha e acabamos nos unindo por dorzinhas no coração, se tornariam pessoas tão especiais e essenciais na minha vida?

Esse tipo de coisa acontece sem mesmo que percebamos... e isso dá ainda mais graça na história. Aos poucos, os corredores da PUC nos uniram, mas quando nos demos conta, a amizade já tinha ganhado vida própria e a PUC era só outro lugar que nos encontrávamos. As vezes me pego pensando e chego a sentir um apertinho no coração... como será que vai ser depois da tão esperada formatura? Ao mesmo tempo que me sinto cada vez mais perto de vocês, também sinto que o longe também esta perto, dá p/ entender? Mas, assim como me senti antes de entrar na faculdade, me sinto agora, as três que ganharam tantas outras características se tornaram peças chaves na minha vida e acho, ou melhor, sei que assim será. Desculpa a demora, mas vocês me conhecem, mas me surpreendi, gostei muito de escrever!

Um dia qualquer

Do mundo
Decidi. Meu filho vai nascer no dia 13 de dezembro de 2012, no primeiro dia da Era do Amor. Porque não dá, gente! Esse mundo assim, não é lugar para se botar filho. Ontem, a caminho de casa, parada no farol, vi se aproximar um pequeno, mas tão pequeno que não dava quatro anos. Sozinho e com cara de gente grande. Confesso não saber o que fazer, se dar moedas ou balas, se chorar, enquanto o vidro permanece fechado. Acho que nenhuma das minhas ofertas é possibilidade de mudança. O que fazer então? O pior é que me olho no espelho com vergonha, afinal, o que eu faço? Querer, realmente, não é poder ou é? Ai, ai...parte das minhas crises comigo, com o mundo e com os outros.

Da lua
Por falar em crise, ando precisando de Floral, bolinhas de homeopatia, acupuntura, reza, benção, reik, sei lá, qualquer coisa que dê jeito na minha memória e no meu desligamento. Ando perdendo tudo, não lembrando de nada, esquecendo coisas, marcando vários compromissos, com pessoas várias, na mesma hora e no mesmo dia! Se eu acreditasse em histórias de avós, diria que andam botando mau-olhado para menina-moça se perder! O episódio da semana foi chegar ao metrô, às 23h30 da noite e me dar conta de que não estava com a carteira. A carteira, aquela que dentro guardo todos os meus cartões, meus documentos, meu bilhete único, meu ticket refeição. Por sorte, D. Jéssi estava lá pra me emprestar 20 mangos. Em casa, depois de quase quebrar a porta porque não conseguia encaixar o bendito pininho na bendita fechadura, liguei para toda gente em busca de soluções. A solução apareceu no dia seguinte, na faculdade: a minha carteira foi achada e estava intacta, lacrada. Mas mesmo assim, vou comprar outra, essa já carrega sorte ruim!

Das rosas
Olhando a vida por seu lado rosa, sinto que as coisas que confundiam agora já não possuem tantos nós. Elas diziam sempre que um dia a escolha seria feita naturalmente, quando o resto tomasse sua forma. E tomou. Quem me olha agora, nesse exato minuto do tempo, desconfiaria que a menina tem borboletas no estômago – que não indicam futuros, que não se nomeiam, que não se entendem. Mas dá pra ver que iluminam, que reacendem, que motivam, que fazem cócegas...tantas cócegas que prendem o sorriso no rosto e enchem um pote risadas.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Um pouco de mim

Sou a Ana. Tenho 23 anos. Assim como as outras “meninas...” estou prestes a me tornar uma jornalista.
Nasci sob o signo de Leão, apesar de a cada dia minha ascendência libriana se mostrar grande. Mas continuo leonina, prefiro assim.
Tenho saudade da Aissa, da Camila e da Melissa.
Poesia me alegra sempre.
Adoro o frio na barriga do começo das paixões.
Não consigo chegar no horário nunca, nem mesmo nas entrevistas de emprego. Tento mudar isso todos os dias antes de sair de casa, mas é tão difícil. Um dia eu chego lá....e na hora.
Jamais subi numa prancha, no entanto, adoro o surf. E não é só por causa dos surfistas, que fique claro.
Tenho mania de acordar e ligar o rádio.
Fazer conta não é muito a minha praia.
Preciso confessar que tenho dificuldade na classificação das palavras em oxítonas, paroxítonas e propa....o que mesmo?
Toquinho, Caetano Veloso e Nat King Cole me fazem lembrar as manhãs de domingo da infância. Lucas Silva & Silva e Mary Poppins eram as minhas tardes.
De quem sinto falta por perto: pai, “madrasta”, avós, avô, tios, tias, primos, primas, amigos, amigas, irmã.
Adoro as festas de família, os almoços de domingo.
A Joana para mim é a Jobas, a Jéssica é a Honey e a Giovanna é o Naneto!
Brigadeiro de panela é a minha gula.
Ver filme triste e chorar é um programa perfeito para os dias frios.
Crianças berrando e bichos mimados me irritam por vezes.
Dizem que sou um tanto dramática, talvez eu seja mesmo. Mas só um pouco.
Tenho fases de querer ficar sozinha.
João Guimarães Rosa e Franz Kafka, paradoxalmente, me emocionam.
Todos os dias gostaria de poder estar em Santo André e Recife.

“...ando por onde há espaço. – Meu tempo é quando”, bem disse Vinicius de Moraes.
Tem mais coisa. Estes são só uns pedaços de mim. O resto se apresentará no cotidiano, aqui, neste espacinho.

Nós! Num almoço especial...


sábado, 13 de outubro de 2007

As meninas de lá, agora, por aqui


São elas, As Meninas de Lá: Jé, Nana, Aninha e Jobas. Claro, pedindo licença a Guimarães, cuja personagem, que sabe fazer saudade, inspirou a nossa criação e nossas conversas.

Como a idéia de escrever começou? Em um momento em que as vidas passam aceleradas e as vontades e sonhos se potencializam. Umas riem, outras choram, se apaixonam, fazem apaixonar. Mas continuam as mesmas meninas de quando se conheceram. Claro, as mesmas, mesmas, não! Mas com aquela mesma sensibilidade, brilho nos olhos, graça, ombro amigo, amizade e poesia que as uniram desde o primeiro ano de faculdade.

Bom, a hitória delas, ou nossa, como preferirem, será contada pela visão de cada uma, ou das quatro ou não será contada por ninguém. Mas pelo menos fica aqui a tentativa de registrar, dia a dia, o que se passa na cabeça um tanto quanto confusa, maluca e, por vezes, sem juízo das quatro meninas de lá, que agora se apresantam por aqui.

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

A pequenina Cordisburgo de Rosa




A idéia foi dela. Eis! Na estréia, um belo sorriso miguilim.