quarta-feira, 5 de dezembro de 2007
Algodão salgado
Às vezes o algodão doce é salgado e não derrete na boca. Anteontem, no carro, fiquei pensando, pensando alto-baixo: pq a gente não pode ouvir de novo uma música no rádio? Tem que esperar ela voltar, um dia, em um momento diferente, ter a sorte de encontrá-la pelas estações? Deveria existir um botão pra gente apertar e a música tocar de novo. Aí pensei que seria bom se existissem botões em vários lugares. E tive a sensação de que as coisas por vezes estão demasiadamante tortas. Não podem ser como são. Quis ter um botão pra matar a saudade, tirar o medo, pra me esconder em um lugar embaixo da terra, com os gnominhos - aqueles que eu colecionava criança -, ao lado de uma lareira, lugar nem muito quente nem muito frio, apenas eu e os gnomos meus, num tempo infinito. Quase não consegui imaginar, quase pedi um botão para imaginar, pode? Pode. Lendo os pensamentos das Meninas de Lá, tão únicos, fortes, individuais, mas tão iguais, aí eu penso pode sim, pode. Todo mundo em algum momento do dia, ou da semana, ou do mês, ou do ano, quis ter múltiplos botões, e quis comer algodão doce sempre, como se todo dia fosse doce e fosse sexta. E encontrou um gosto salgado. Quem disse, no entanto, que o doce não é salgado e o salgado não acaba sendo doce? É bonito de ver o movimento do açúcar na máquina de fazer algodão. Ele se transforma tão rápido! Dia desses, o fotógrafo queria fotografar o fio de algodão nascendo, mas não dava, logo virava montes de algodão, logo virava sorriso da criança, saliva doce, lembrança. Pq se transforma depressa demais? Talvez nunca me esqueça daquela casa, da expressão daquela mulher, o açúcar voando no meu rosto, o cenário meio circense, o Apito, o bebê. Agora, fugi da minha matéria e vim pra cá, de madrugada. Aqui estou presente, e nem ligo, ó! Às vezes é salgado demais. Pq a gente precisa desligar o rádio e voltar? E se diz, a vida nem é da gente...
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