sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Espuma de fumaça


"Hoje estou meio molenga, mais zen", eu falei, antes de sair do reiki. Então, caminhando em direção à porta, uma mensagem dele. "Por onde anda o meu amor?". Feliz, eu começo a digitar a resposta e a porta faz "clec". Abro. Cadê? Alguns segundos parada, com a chave em mãos. Toquei a campainha de novo, ela atendeu, espantou-se. Eu, por um segundo, quis rir. Noutro segundo, uma avalanche de ligações para resolver questões práticas. Adiós, Oprah's Cookbook, terninho preto, lenço verde, vestido listrado. No painel, tinha um bilhete do meu pai: "bom dia, filha, tente voltar cedo, ok?".

Quando te roubam alguma coisa, você fica pensando por que diacho aconteceu com você. Centenas de carros estacionados na Vila Madalena, melhores que o meu, estacionados em algum beco, talvez até abertos, por distração do dono. Era novo, mas já tinha um adesivo da bandeira da Itália, um rádio bacana. Era novo, tinha ainda plástico no banco do motorista. Puxa! Não fiquei me lamentando, chorosa. Mas quando te roubam alguma coisa você fica pensando por que, e relembrando os momentos que antecederam o clec da porta e a visão da calçada vazia. Vazia feito sorriso de palhaço.

Lembrei que reparei mais no terninho preto naquele dia, fiquei me olhando no espelho e pensando que a manga do vestido era muito gorda e pedia um casaco mais folgado. Lembrei quando tranquei o carro e tive a sensação de que ia ser roubado. "Vou levar o livro comigo. Não, que besteira, deixa o livro aí". O momento em que, sentada na varanda, domingo, enquanto a família conversava sobre o carro, eu disse "mãe, precisamos levar pra benzer, duas batidas em uma semana". E não é que, naquela tarde de terça-feira, a mãe, sem saber de nada, entrou em uma loja na Praça da Liberdade, em Belo Horizonte, e comprou uma medalha de Santa Lourdes?

Penso o que teria acontecido se eu não tivesse transferido o reiki para a manhã de terça-feira, ou se deixasse o carro na rua, ao invés de estacioná-lo na calçada, em frente ao instituto (teria conseguido a vaga se parasse antes na padaria?). Por um segundo eu não mandei uma mensagem para ele dizendo que estava na Vila, procurando algum canto charmoso para tomar café, antes de trabalhar.

Sem dramas. Mas essas coisas fazem a gente ficar matutando. Quem foi o sujeito que levou meu carro? Não dá pra ficar revoltadinha e reclamar, fingir que só existem os meus problemas de clásse média. Mas dá uma certa tristeza, aquela sensação de que tudo pode acontecer a qualquer momento e, aliás, seria normal se estivesse acontecendo agora, não está sabe-se lá por que, sorte. Vontade de morar numa casinha longe daqui, no mato, cuidar de uma horta, colher fruta, regar uma flor. Eu vou, de vez em quando. A terra no pé, quase ninguém vê. Mas eu vou.

Um comentário:

Marina Morena Costa disse...

Nã, já dizia minha sábia avó: vão-se os anéis, ficam os dedos!
Ser roubada, furtada é sempre uma barra. A gente se sente invadida, vulnerável, desrespeitada. Um horror. Por mais que seja algo material, e que a gente não seja materialista, aquele objeto tem nossa energia, nosso carinho, nosso apreço -- um pouquinho da gente, de certa forma.
Mas passa! Acredito que até já passou, não?
Fique bem, florzinha! Gosto muito de vc.
Beijo grande