sexta-feira, 18 de julho de 2008

Aula de desenho


Quando tinha 5 anos, olhei para a caixa com 12 lápis-de-cor Caran D'ache de uma amiga e senti uma vontade irresistível de deslizar a mão sobre eles. Deslizei. Um a um, os lápis foram se deslocando de seus espacinhos e eu me lembro perfeitamente da deliciosa sensação de vê-los se amontoando uns nos outros. Lembro do barulho (eu adorava aquele barulho). Realizada a estripulia, a dona da caixa fez cara feia, deve ter pronunciado umas inocentes barbaridades, e começou a chorar. Levantou do lugar - sentávamos no chão, em círculos, em cima da linha amarela - e foi correndo em direção à professora. Eu saquei que ia me ferrar e pedi para ir ao banheiro. Na verdade, não sei nem se pedi, saí zarpando. Acho que recebi uma bronca quando voltei à sala, mas desta parte não me recordo. É uma história singela, que guardo entre as muitas outras boas histórias da infância.

E como a memória é mesmo uma coisa tolinha, foi um poema da Maria Esther Maciel que me fez voltar ao Infantil II. O poema está no livro Triz, junto com outros que achei fantásticos, como Regalo. Regalo, para mim, é ele escrito; e fica só com ele.

Aqui, Aula de Desenho

Estou lá onde me invento e me faço:
De giz é meu traço. De aço, o papel.
Esboço uma face a régua e compasso:
É falsa. Desfaço o que fiz.
Retraço o retrato. Evoco o abstrato
Faço da sombra minha raiz.
Farta de mim, afasto-me
e constato: na arte ou na vida,
em carne, osso, lápis ou giz
onde estou não é sempre
e o que sou é por um triz.

Um comentário:

Anônimo disse...

Veroca,
gostaria de ter o seu dom. Vc sabe expressar seus sentimentos com muita leveza e beleza. Continue assim. faz-me mto bem. Obrigada por ser minha amiga
Bjitos
eldita