segunda-feira, 10 de novembro de 2008

O jardim de Agda


"Meu nome não é Agda, é Raimunda", ela diz. Pequenina, magrinha, sorriso fácil. "Minha mãe devia estar com raiva quando me registrou", acrescenta, como se já tivesse falado aquilo antes uma porção de vezes. Agda é pernambucana de uma cidade chamada Flores. Onde é? "Bem no sertão de Pernambuco". Trabalhou como metalúrgica e copeira antes de vender cachorro quente. Acomoda a salsicha no pão, temperando-a com pimenta, cebola "e outras coisas". Adora inventar moda e, normalmente, avisa, suas criações fazem sucesso no bairro por onde circula. "Não tem graça vender o que todo mundo vende". Pergunto pra Agda o que é mais importante quando se faz cachorro quente, esperando que ela responda o que já afirmara enquanto observava a salsicha na panela: carinho, amor. "Fazer as coisas com carinho, amor, cuidado mesmo, sabe? Gostar do que faz". Ela disse. "Tem gente que fica meio assim quando alguém pede pra fazer algo diferente, fica preocupado. Eu, não, eu penso 'que bom, é minha chance de aprender a fazer um tempero novo'. A gente precisa ter bom humor". Ela tem de ir. "Esqueci de te falar que sempre trago as cebolas cortadas porque tenho um problema com cebolas. Elas sempre me emocionam". Agda não deve ganhar um baita salário. Às vezes, provavelmente sente vontade de abrir a porta da rua e sair. No Natal, enquanto recheia dezenas de sanduíches para desconhecidos, talvez pense em uma tia-avó que ainda hoje vive em Flores e, mesmo sem querer, sinta o cheiro da massa do acarajé ficando pronta. Mas Agda tem o maior tesão no que faz. Isso me dá o maior tesão de continuar.

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