quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

O Porco



Estava o porco em seu lugar. Naquela época, aliás, ele ainda era no diminutivo um encantador porquinho. Contrariando a imaginação da menina, não tinha a pele rosada e muito menos manchas brancas pelo corpo. Tinha cor de caramelo e seus pêlos ouriçavam-se com qualquer barulho. Era um porco medroso.

Na fazenda onde morava quase não tinha amigos. Era um porco triste. Eusébio, nome que deram ao pobre animal, dividia seu mini-chiqueiro com outro de sua espécie. Porém, não era qualquer outro. Era o porco-dos-olhos do fazendeiro Zé e da dona Tica, sua esposa.

Eusébio não fazia muito sucesso com os visitantes e era motivo de chacota entre os demais. Talvez tenha sido por isso que, mesmo pequenino, tornou-se um porco rebelde. Também pudera, não tinha cinco dias que Eusébio estava no mundo e sua mãe sumiu. É. Foi levada à cozinha de dona Tica e de lá não saiu mais.

A única pessoa que gostou daquele porco foi uma menininha que passeava pela fazenda. Ah, se gostou. Tirou até foto com Eusébio e qualquer oportunidade que tinha mostrava para as pessoas e dizia: — Olha que fofurinha! O retrato foi obtido com muita dificuldade, já que o porquinho não parava de se mexer e gritar: nhóic, nhóic. Era um porco inquieto. A sorte dela era ter em sua companhia um bom fotógrafo.

A garota nunca mais viu o porco, mas sempre se lembrava dele. Era um porco inesquecível. Pensava que já tinha ouvido uma história parecida com a do porco diferente, tristonho e solitário. Até que certo dia, finalmente, descobriu que Eusébio estava no livro errado ao encontrar, na biblioteca da cidade, o raro exemplar de "O Porquinho Feio". Foi assim que ela desvendou o mistério.

Esse texto é dedicado a duas meninas de lá que, por momentos de insanidade, acreditaram que eu havia levado um porco para casa.

5 comentários:

nana tucci disse...

Bora buscar o Eusébio em Ubatuba! (prometo que te ajudo a cuidar)

BAEA disse...

O fotógrafo é bonzão mesmo. Mas Eusébio não era tão rebelde. Ele tinha na caixinha a qual servia de mini-chiqueiro uma irmãzinha. Quando tentavam segurá-lo, ele enfiava o narizinho de tomada por baixo da barriga dela, procurando segurança daqueles malucos turistas.

Adorei o conto. :)

C.L.A.R.I.A.S.T.R.A disse...

Estou com a Nana,prometo que te ajudo a cuidar!!
Bora buscar...

ps: comentado ao som da menina Ana falando: "meu sonho era ter um porco"

Cadjoo disse...

Será que o Eusébio estava na nossa mesa no Pirajá? :)

Anônimo disse...
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