quinta-feira, 18 de setembro de 2008
A sorte dela
Hoje acordei cedo para vê-la passar. No frio, os lenços contornando o pescoço fino e comprido me fazem inveja. A bochecha e o nariz corados a deixam mais bonita! Beleza diferente a dela. Morena, nariz grande, delicado e gracioso por sua espessura, fina. E ela usa uma jaqueta jeans e calça de veludo. Tão Básicos. Nunca falei com ela, mas ouço a sua voz quando reclama alto por ter perdido o ônibus. Pequena e brava. E talvez doce. Ela prende o cabelo da mesma forma todos os dias. Será porque não gosta dos cabelos castanhos? Ou porque tem medo da mudança? O cheiro dela, eu também conheço. É um cheiro de banho. Percebi que ela não se perfuma. O perfume gruda na pele dela quando se hidrata. Há muito andava com a unha por fazer, assim como as sobrancelhas grossa, que nunca mexe. Mas algo anda fazendo com que ela pinte as unhas de vermelho toda a semana. Será que vem despertando a mulher? O que mais me intriga porém, são os olhos. Pieguice, talvez. Mas os dela são castanhos, não claros como mel e nem escuros, quase jaboticabas. É meio-termo. A beleza, porém, vem é do rio que se instalou ali. Rio que nunca seca e é constante em seu olhar. Não entendo como moça assim pode deixar, todos os dias, o seu olhar marejar. E ela deixa. Ela deve carregar algo grande no peito, que pesa, que dói e faz do olho dela, mar. Mas haveria beleza e força se ali se abrigasse um deserto? Seguindo-a, sem perceber, por um longo caminho, ouvi o conselho dado pela cigana da rua que, toda semana, insite em gritar sua sorte, mesmo que ela aperte o passo para não ouvir: "Ei, menina dos olhos d'água, a solução é ser mais gentil com você mesma!" E acho que foi assim que conheci um pouco mais dela. Pela voz da cigana que em uma frase, decifrou o segredo daquela que, por toda uma vida, venho mirando: alma-gêmea.
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2 comentários:
sorte de quem pode desvendar tantos mistérios um pouquinho a cada dia, num desafio infinito e delicioso. sorte para quem segue e ouve o cantar dessa tal menina de olhos d'água. a sorte dele.
Jo, caramba. maravilhoso!
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