sexta-feira, 27 de junho de 2008

Homenagem



Em homenagem: ao homem que me mostrou como o sertão pode ser belo, sem a hipocrisia de esconder sua aspereza, sua pobreza e malvadezas; ao homem que me falou sobre os perigos de viver; que disse: "o correr da vida embrulha tudo"; ao homem que me apresentou Nhinhinha; que escreveu “A terceira margem do rio”; que trouxe para minha vida Riobaldo e Diadorim; ao homem que gostava de escrever sem pontos, sem regras, que inventava diminutivos e palavras...Nonada; ao homem que me fez compreender que "amor vem de amor". Mire veja, que só por isso já bastava; ao homem que falou tanto de coragem; ao homem do " o sertão é dentro da gente"; ao homem que em 1956 narrou um amor homossexual. Enfim, em homenagem ao homem que me emociona a cada página: João Guimarães Rosa, que se estivesse vivo hoje, completaria 100 anos. Abro minha agenda e coloco aqui alguns trechos.


"Compadre meu Quelemém, muitos anos depois, me ensinou que todo desejo a gente realizar alcança — se tiver ânimo para cumprir, sete dias seguidos, a energia e paciência forte de só fazer o que dá desgosto, nôjo, gastura e cansaço, e de rejeitar toda qualidade de prazer. Diz ele; eu creio. Mas ensinou que, maior e melhor, ainda, é, no fim, se rejeitar até mesmo aquele desejo principal que serviu para animar a gente na penitência de glória. E dar tudo a Deus, que de repente vem, com novas coisas mais altas, e paga e repaga, os juros dele não obedecem medida nenhuma. Isso é do compadre meu Quelemém. Espécie de reza?".

"...por que o governo não cuida?! Ah, eu sei que não é possível. Não me assente o senhor por beócio. Uma coisa é pôr idéias arranjadas, outra é lidar com país de pessoas, de carne e sangue, de mil-e-tantas misérias...Tanta gente – dá susto se saber".

"Amizade nossa ele não queria com descida simples, no comum, sem encalço. A amizade dele ele me dava, e amizade dada, é amor".

"Lei de jagunço é o momento, o menos luxos".

"Sou o que não foi, o que vai ficar calado".

"Se amor? Era aquele latifúndio. Eu ia com ele até o rio Jordão...Diadorim tomou conta de mim".

"A vida da gente faz sete voltas — se diz. A vida nem é da gente...".

"Sertão é isto, o senhor sabe: tudo incerto, tudo certo. Dia da lua. O luar põe a noite inchada".

Um comentário:

marcela dantés disse...

várias dessas podem ser encontradas também no meu caderno "das coisas que eu queria ter feito".

vida longa à Guimarães. Ando apaixonada.