quarta-feira, 28 de novembro de 2007

E por falar em poesia

E por falar em poesia – e não me refiro somente a capacidade ou a arte de se fazer sensibilidade e flores com a ponta do lápis – tenho mania de dividir as pessoas no mundo em duas categorias: com poesia e sem poesia! E não é de primeiro enxergar que se percebe a categoria de cada um...Ah, leva tempo, sabia? Mas existem as primeiras impressões, que me fazem, às vezes, querer não ter passado disso com certas pessoas. Afinal, com alguns, o encanto simplesmente desaparece após o primeiro contato.

Quero contar um exemplo de uma primeira impressão um tanto quanto marcante, um tanto quanto poesia. No ônibus, um dia, pus-me a ouvir a conversa de um casal sentado à frente. Tá, feio, talvez, mas gosto da forma como pessoas desconhecidas podem variar o uso das palavras e com essa escolha chega aos meus ouvidos. Claro, o tema, também, ás vezes, faz cócegas em minha curiosidade. Mas...voltando ao assunto, ouvindo a conversa, vi que formavam um casal simples, de vestir roto, cujo falar fugia às regras da tal gramática normativa. Talvez nordeste, talvez Ceará ou Paraíba, não sei. O assunto que discutiam, confesso não me lembrar de nada, mas o soar das palavras me comovia. O carinho com que se tratavam, mesmo com o vocabulário pouco, um tanto quanto Vidas Secas, também. E, em meio a tudo, cantaram a palavra “desorbitado” – “Tal pessoa era desorbitada”...Aquilo chegou em mim com uma potência. A associação feita, a delicadeza da palavra usada, tudo me fez enxergar a poesia que trasbordava ali, daquele Fabiano e daquela Sinhá Vitória. E ainda se completou o lirismo quando ele, de olhos claros e barba ruiva, já se levantando, disse: "- Sente aqui moça."

Tá, eu sei, a história pode surgir como o “Sim em uma sala negativa”, como bem fez João Cabral ao apresentar a poesia sofrida dos Severinos dessa vida. Ou plantada como foi plantada toda a poesia do mundo no sertão de “O Céu de Suely”. Ou como em tantas outras manifestações artísticas que transformam dramas sociais em Manacás da Serra, em tempos de primavera. Mas aqui não era minha intenção, juro! Foi a primeira impressão, pintada dentro de um ônibus lotado, onde a universitariazinha da Puc aceitava o lugar de um dos Fabianos ou Severinos dessa terra. Contradições, preconceitos, ilusões, mistificações, pode sim, ser tudo isso...mas eu só queria a poesia!

2 comentários:

Anônimo disse...

em outros casos a poesia cresce à medida que o contato intensifica. daí acontece de ficarmos definitivamente desorbitados. e nem precisa ser com qualquer coisa nova. um pouco mais do mesmo que pessoas tais guardam, como um olhar único e um texto simples num blog, já bastam pra encantar. e desorbitar.

poesia potiguar disse...

eu quero mais é a ajuda das universitárias pra melhorar os meus dias!

que lindo texto, que boa lembrança aquele céu azul de Suely.

adorei poder desorbitar um pouco. quero mais.

beijos1