quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Rodando


Ontem fui jantar com um amigo mais velho muito sabido. Por ser um colega jornalista (tomo a liberdade de chamá-lo assim), evidentemente ele me dá vários conselhos profissionais. Mas, vez ou outra, conta um causo e, depois, faz uma pausa, muda a expressão e, com ar de seriedade - embora sem apontar dedos -, elabora uma frase sobre a vida. Então dá risada, como se estivesse aliviando uma tensão, o latente desespero, eu acho, que todos nós sentimos por não entender ao certo o porquê de estarmos vivos. Ontem, ele exclamou: "Sabe o que é a vida para mim, Giovanna? É uma grande poltrona cheia de gavetas. A gente abre uma, fecha outra, abre aquela primeira de novo, dá uma arrumada na bagunça, fecha." Gostei.

Difícil não gostar de alguém que leva a vida com verdade. Tenho falado muito nisso ultimamente: levar a vida com verdade, ser verdadeira. É que fiquei encantada com essa simples descoberta. Depois que passei a entender melhor quem eu sou e o que se passa dentro de mim, comecei a ter muito mais prazer na companhia de pessoas que, percebo, também tentam levar a vida deste modo. Este meu amigo é um camarada que, com todas as suas importantes ocupações, consegue estar presente em um jantar no meio da semana com uma jovem cara-de-pau que o procurou com seu CV na mão há mais de dois anos pedindo um emprego. Por que ele me dedica atenção? É um homem de respeito, bem sucedido. E ele ouve o que tenho a dizer. Eu, zé ninguém, eu e meus papéis, eu e meu cigarro, eu e minha vida cor-de-rosa. Isso me emociona.

Esses dias, li um texto da Adélia Prado, por quem cada vez me apaixono mais, chamado "Rodando". Vi o título e na hora lembrei de uma foto da qual gosto muito, tirada no dia do meu aniversário. A ciranda da bailarina. Eu me identifiquei muito com o texto da Adélia, embora, assumo, não o tenha postado neste blog ainda porque não estou me sentindo alegre ultimamente. Rodando, rodando, rodando. "Rodando" me lembrou as gavetas da poltrona de meu amigo, que me lembrou, por sua vez, outra frase que escutei há pouco tempo. Quem falou foi uma chef de cozinha, a graciosa D. Benê: "A vida é legal".

Um comentário:

Anônimo disse...

"A vida da gente dá sete voltas. Se diz, a vida nem é da gente."

Rodando de novo... define-se?
Um beijo Nana!!