sexta-feira, 25 de janeiro de 2008
Mais poesia do que prosa
- Qual é a cor? - o homem perguntou.
Ela, com irretocável delicadeza, fez-se desentendida e respondeu:
- O senhor poderia, por favor, me dar um café?
O homem do outro lado do caixa parecia não estranhar a atitude daquela moça, mas seus olhos carregavam qualquer coisa de decepção. Eu vi. Os dois ficaram os minutos seguintes se olhando, em um silêncio nada constrangedor para eles, mas que me deixou tão constrangida que cheguei até a me ajeitar na cadeira e corar, buscando um outro olhar estrangeiro.
- O senhor...vai me dar um café? - sorriu lentamente por alguns segundos, finalizando propositalmente o sorriso com uma leve mordida nos lábios. Sabia que era quase imbatível, "como o sabiá quando assobia". Riu por dentro (adorava risos só seus). E ele cedeu, só fazendo que sim com a cabeça e virando-se para a máquina.
- Com um pingo de leite, por favor.
Enquanto preparava o café, ela sorria mais, chegou a rir baixinho uma hora, achando bonito o jeito desajeitado dele, o corpo magrelo encurvado em direção à máquina de café. Ela fazia isso ajeitando o cabelo para o lado, o sapato-boneca vermelho firme no chão e os cotovelos encostados no balcão. Ele, então, segurando com as duas mãos a xícara, sob leve pressão por estar sendo observado fixamente pela moça, se encheu de coragem e a fitou nos olhos.
- O café - encarou-a de tal modo que ela só pôde abaixar os olhos para os sapatos vermelhos - Não vai mesmo me dizer a cor?
Longa pausa. A resposta espera a moça beber o café.
- Mais poesia do que prosa - disse, rodopiando a saia e deixando, devagar, a cafeteria do museu, com seu jogo de cores e formas.
Ela optara pelo azul. "Aquém". Mas eu vi em seus olhos - eu vi quando passou por mim -, a leveza quase etérea de "Lux mea Lux".
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Um comentário:
treta, hein?
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