quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Mania de Explicação

A menina que tinha mania de inventar explicação para todas as palavras definiu, certo dia, Angústia como um nó muito apertado bem no meio do sossego. Explicou, também, outras mil palavras, mas na minha cabeça confusa, só essa foi acesa em luz néon. Estava eu, sossegada, quando, como um pica-pau, veio ela bater à porta e, de madeira como é, furou e conseguiu entrar. E ela não saía, passeava de lá pra cá, fazendo balbúrdia dentro de mim e colocando pra dentro outras palavras que, quiçá, só existem em meu dicionário. E tudo ia se tornando tão mais frágil, mais sensível, mais vulnerável. E nem quando a menina que explicava tudo começava a significar outras palavras, eu prestava atenção. Para mim, desde que a Angústia entrou, só ela tomava conta. Aí eu fui ficando tão sem palavras, só com aquelas inventadas, sem sal e nem açúcar, sem significados bonitos e sem poesia. Não acreditava mais nas palavras que todos diziam ao meu ouvido. Só o que superava era ela, a Angústia. E por causa dela, fui ficando velha e enrugada. Ranzinza e descrente. Fui ficando maluca, perdida, inconseqüente. Desesperada, desconfiada, desmotivada. Na defensiva, sem avançar. Na retaguarda, com medo de entregar.
A menina que explicava tudo ficou, então, preocupada por não saber tirar, por meio de alguma explicação, a Angústia de dentro de mim. Por isso, tentou, como última alternativa, me mostrar o significado de uma palavra em especial que, para ela, dá razão a todo o resto. Mas ela se embananou toda, se confundiu, se perdeu. Foi quando a menina que explicava tudo não soube explicar mais nada. Mas, nessa hora, resolvi prestar atenção na confusão da menina que não podia mais explicar. E ela tentou. Deu várias definições para a palavra inexplicável: “É quando a paixão não tem outro compromisso marcado. Não, é um exagero... Também não. É um desaforo...uma batelada? Um enxame, um dilúvio, um mundaréu, uma insanidade, um destempero, um despropósito, um descontrole, uma necessidade, um desapego?”. Ela, a menina que queria explicar tudo, não soube explicar o que era o amor. E, como um sopro forte, mandei a tal angústia embora e percebi que há coisas que simplesmente não se explicam. Só se sente. Cansada de tentar controlar tudo, resolvi acreditar no sentir e nas várias formas em que ele se manifesta. Parei de tentar definir ou explicar o mundo ao meu redor. Ele existe, com seus vários porquês, suas várias causas e argumentos. E eu não tenho como mudá-lo. Só cabe a mim, vivê-lo de forma leve, tranqüila, sincera, intensa e acreditando na força e no poder das palavras ditas com amor – mesmo sem saber explicar o que ele significa.