quinta-feira, 10 de abril de 2008

Uma quinta-feira




Sentada no computador, a vontade era de sair correndo, muito embora a ressaca acumulada de dias de cerveja e cigarro pesasse um pouco. A amiga do lado, pensamentos em cima.


- Vou dar uma saída rápida de bicicleta, comprar um negócio na farmácia



Já na primeira pedalada pra fora da garagem do prédio a chuva, ainda fraca, tinha vindo cumprimentá-la. Não pensou duas vezes. Dessa vez não ia "emprestar" guarda-chuva de ninguém, não tinha compromisso senão com ela. Na farmácia o colírio se mostrou a bica do século. 35 reais. Ah tá, obrigada.

Saiu de lá e foi direto para o Parque Ibirapuera. Sem pensar no medo dos carros, na chuva que ficava cada vez mais forte, na sujeira da cidade. Enquanto contornava o lago do parque, recordou-se dele, ele que, entre muitas outras coisas, certa vez lhe ensinou que as pernas devem funcionar como pistões e as costas devem permanecer retas.


No caminho, enquanto pensava na vida, nele, no futuro, nela, na sensação de liberdade que dá andar sem destino enquanto a chuva caía sem preocupação, molhando a menina da cabeça aos pés, fotografou momentos improváveis daquela quinta-feira cinzenta e chuvosa na cidade grande. Um senhor empurrava uma mulher na cadeira de rodas. A tempestade caindo parecia não importar.


- chove pouco nesta cidade!


Enquanto isso, um homem ensinava uma mulher a andar de bicicleta. Em plena chuva! Ambos por volta de 40 anos. Nunca é tarde....Em algum momento do circuito, teve que reduzir a velocidade para o pato passar em direção a seu lar, o lago. Um casal , ela abaixada e ele em pé, conversava rodeado por patos e pássaros, olhando para o horizonte. Talvez discutissem a vida, talvez a relação. Tudo isso na quinta-feira chuvosa.


E ela sentiu-se feliz, por perceber que a vida está onde queremos que ela esteja. E por ter sentido a sensação que ele sente quando anda de bicicleta na chuva, a água entrando nos olhos, molhando a roupa, mas o coração batendo forte. Improvável, como tudo que tem graça.

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