quarta-feira, 24 de outubro de 2007

E chove...

Confesso que acordar de manhã, abrir a janela e me deparar com o céu cinza e chuvoso, me deixava no ápice do mau humor. Já pensava no trânsito que iria pegar pela frente, nas pessoas estressadas que cruzaria no caminho, na indecisão entre colocar tênis ou bota, lembrar de pegar o guarda-chuva...
Digo “me deixava”, pois tenho reparado que nas últimas semanas o que aconteceu foi o oposto. Tenho acordado feliz e um pouco mais ansiosa pelo dia que virá, porém, sem me importar se chove, faz sol, frio ou calor. Na verdade, hoje estou admirando todos os fenômenos da natureza em qualquer uma de suas representações. As coisas ficaram mais belas, me parece. Ou eu comecei a enxergar diferente...
Queria divagar mais, pensar mais nisso, entretanto, o corre-corre do famigerado fechamento não pára de me chamar.

Falaremos mais sobre isso depois. Por enquanto deixo esta poesia aqui:

TRADUZIR-SE

Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte
é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte
estranheza e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?

Ferreira Gullar




2 comentários:

Anônimo disse...

Chove, deixa chover
enquanto houver bolo de cenoura
a gente nem vai perceber

Chove, deixa chover
com banana quente
a gente nem vai perceber

Anônimo disse...

nan, amei esse poema... tão verdadeiro!!!